24 abril 2011

Poder e representação: teatrocracia em Moçambique (3)

O terceiro número da série.
Tenho-vos falado em poder. Mas é o poder uma coisa, algo tangível, é o poder uma substância material que certos seres humanos excepcionais possuem em si ou dentro de si? Não, o poder não é uma coisa em si, é, antes, uma relação. Melhor dito: o poder é o produto de uma relação complexa, física e psíquica, entre quem governa e quem é governado. O poder político ganha-se de duas maneiras: directamente pela força ou pelas eleições, indirectamente pelo crédito popular espontâneo. O que é poder político? Numa definição bastante abstracta, poder político é a possibilidade relacional de o Estado induzir condutas integradoras permanentes por parte dos cidadãos empregando dois tipos de capital: de dominação (conjunto de procedimenos destinados à coerção física directa) e directivo (conjunto de procedimentos destinados a obter adesão, reverência e/ou amorfismo). O poder representacional integra o capital directivo.
Admitamos, então, que o poder político aqui em causa é um poder relacional, poder ao mesmo tempo obtido e consentido.
Vou, agora, propor-vos, divididos em dois níveis, oito campos de um possível estudo do poder representacional em Moçambique, do poder teatralizado, do poder-espectáculo:
Pela visibilidade:
*O poder pela sumptuosidade habitacional-laboral
*O poder comemoracional-cerimonial
*O poder comicial
*O poder motorizado
*O poder pela heroicidade
*O poder decisional
Pela invisibilidade:
*O poder pela distância e pela intermediação
*O poder pelas forças do invisível
Imagem: el poder, quadro do pintor e ceramista argentino Raúl Pietranera).
(continua)

2 comentários:

Salvador Langa disse...

Ora aqui está uma grande série. Tirar a roupa ao poder para ver como ele é.

ricardo disse...

Sr. Professor, a propósito da análise que faz, dei comigo a imaginar que uma transição de sistemas sociais antagónicos feita na velocidade errada pode causar ainda males maiores. Vide o caso da Mongólia:

http://www.guardian.co.uk/world/2010/aug/02/mongolia-far-right

Fiquei surpreendido com esta forma de arianismo (tzenzikhanismo). Aliás, a Mongólia, se não estiver errado, é um dos países que ainda não mereceu a V. atenção. Mas acredite, há uma grande similitude entre as dinâmicas locais de transição para o neoliberalismo e as nossas. Por exemplo, o efeito da transformação de pastores nómadas (70% da população até 1989) em garimpeiros auríferos artesanais...