12 março 2011

Tristeza urbana sem perímetro

Comecei hoje, com este belo tempo que faz na cidade de Maputo, em passeio de cerca de hora e meia, por descer no meu carro a rua que vai da praça (ignoro o nome) situada na Avenida Julius Nyerere à praia, em direcção à Marginal. Ali, há uma zona na qual os buracos no alcatrão parecem crateras nucleares, há meses que está assim, com água escorrendo, eventualmente oriunda de uma das luxuosas casas situadas no lado esquerdo. Depois, já na Marginal, a caminho da Costa do Sol, comecei a gincana entre centenas de buracos, alguns deles assustadores; casuarinas quase a tombar, locais onde habitaram casuarianas, praia suja, mentalidade do deita-abaixo e espalha-à-vontade; de regresso, sempre na Marginal, em direcção à baixa da cidade, reverifiquei o estado lastimoso em que se encontra o paredão entre o Clube Naval e o Clube Marítimo. E dei-me a estudar a degradação do viaduto que liga a Polana à baixa. Subindo, olhando o capim abundante, abandonei a viatura na Polana e caminhei a pé pela Avenida Friedrich Engels, pelo chamado Miradouro: uma lixeira sem fim entre os cruzamentos com a Rua Chuinde e com a Rua Mtomoni, dois bancos estavam cheios de lixo tombado, lixo que entulha as barreiras, lixo produto do deita-rápido de empregados e guardas das luxuosas casas ali existentes e do esmero espalha-tudo dos adolescentes de rua que vivem nessas barreiras. Sem dúvida que hoje não visitei os bairros populares, um dia o farei demoradamente e a pé.

3 comentários:

Salvador Langa disse...

A cidade precisa de pessoas que saibam o que é gestão urbana e não de alpinistas eleitorais.

V. Dias disse...

O banco que se pode ver na imagem, cheio de lixo e entuchos, à semelhança dos candeeiros públicos, segundo a UNESCO, é considerado património público nacional.

Será que alguém na edilidade de Simango sabe disso? Dúvido.

Hoje chorámos por Comiche. De facto o homem é competente. Maputo: quem te viu e quem te vê.

Zicomo

ricardo disse...

Maputo, cada vez mais semelhante a Luanda. Maputenses, cada vez mais parecidos com os Luandenses...

É triste, mas parece que as pessoas necessitam viver rodeadas de miséria para depois terem motivos para conversar ao jantar. Ou a volta de uma garrafa de vinho.

P.S.

O sulco de água na rua em que passou - chamada JOSÉ CRAVEIRINHA, imagine-se!- tem origem no edifício do ACNUR. E se ainda não foi reparado é por falta de vontade desta organização internacional que, arrogantemente, esfrega no nariz de todos, os galões de impunidade que a Convenção de VIena lhe outorga. Ou seja, nenhuma autoridade municipal ou estatal lhe pode obrigar a fechar a torneira, se esta não quiser.