22 março 2011

Dos megaprojectos às mega-ideias (8)

Escrevi no número inaugural desta série que uma grande ênfase tem sido dada aos megaprojectos do país. O problema pode ser resumido assim: precisamos taxá-los, taxando-os a nossa vida melhora. Vou tentar discutir esse pressuposto com algumas mega-ideias.
Recordo o que escrevi no número anterior: para que, um pouco como na banal história da humanidade, possamos decisivamente passar da fase da recoleção para a fase da produção, é preciso que duas coisas estejam reunidas: um Estado ao serviço de uma burguesia social investindo na produção e uma burguesia ao serviço de um Estado social investindo no bem-estar dos cidadãos.
Mais algumas ideias frustres, agora sobre o nosso Estado.
O nosso Estado está especialmente condicionado pelas e ao serviço das grandes organizações financeiras internacionais e do grande Capital, no último caso especialmente do capital mineiro. É um Estado que depende das importações, das empréstimos e das rendas localmente cobradas ao Capital internacional. É um Estado que, ao querer olhar para dentro, precisa primeiro e imperativamente olhar para fora para saber o que deve fazer. Todavia, essa dependência não o impede de multiplicar serviços internos, de se desdobrar, Estado-polvo que é, por um imenso labirinto de serviços e de despesas. Prossigo mais tarde.
Imagem reproduzida de um blogue e de uma postagem de Novembro de 2010 intitulada "Transnacionais avançam sobre Moçambique",  aqui.
(continua)

1 comentário:

ricardo disse...

Contrapesos, contrapesos aparentes...

No fundo, sao sempre as mesmas familias a usufruirem das migalhas do capital multinacional. Alias, gostaria de convidar o ilustre Professor a pesquisar sobre o nepotismo no Aparelho do Estado. Por exemplo, eu trabalho num organismo onde 90% dos funcionarios tem algum parente cosanguineo num lugar de chefia ou no mesmo sector de trabalho. Julgo saber que ainda esteja em vigor uma Portaria herdada do tempo colonial que proibe explicitamente a ocorrencia deste fenomeno. Pois nao me ocorre que tenha sido anulada. Ninguem me tira da ideia que, embora o EGFAE o explicite tambem, este e o factor determinante no acesso à organizacao e a progressão nas carreiras e mesmo ate na elaboracao de procedimentos disciplinares contra os funcionários.

Se a estes 90%, acrescermos as ligacoes por casamento, filiacao politico-partidaria na FRELIMO ou vizinhanca - e sabemos muito bem que em muitas zonas de Africa, vizinho faz parte da familia - concluo que pertenco a uma faixa residual dos 0-1% da minha organizacao que la so estao por merito proprio.

Eu acredito que esta seja a regra e nao a excepcao no famigerado "...Estado-polvo que é, por um imenso labirinto de serviços e de despesas..."

Como diria Lenin, os factos sao (muito)teimosos.