26 dezembro 2010

Notas sobre WikiLeaks (14)

Mais um pouco desta série (mapa em epígrafe do Spiegelonline aqui, pode também ver um outro mapa elaborado pelo Guardian aqui).
4. WikiLeaks e ciberactivismo (continuidade deste ponto do sumário). Escrevi anteriormente que, em função dos eixos de luta ciberactiva que apresentei, há cinco perguntas a ter em conta: pode o WikiLeaks ser considerado (1) um movimento terrorista?; (2) um movimento anarquista?; (3) um movimento social?; (4) o equivalente ou o substituto electrónico dos protestos sociais clássicos de rua?; (5) traduz o movimento a transição para um novo mundo?
Tentarei de seguida responder à terceira pergunta.
Creio que se pode definir o wikileakismo como movimento social digital operando no protesto social e na pressão política contínua, eventualmente visando uma sociedade mais transparente e mais crítica. O campo de luta dos seus actores não é a praça pública, mas a praça digital. Não se sabe se o grupo está transversalmente articulado com outros grupos de pressão.
Prossigo mais tarde.
(continua)
Adenda: a qualquer momento, como é meu hábito neste diário, posso introduzir emendas no texto em epígrafe.

1 comentário:

ricardo disse...

"...Não se sabe se o grupo está transversalmente articulado com outros grupos de pressão..."

Possivelmente nao. Mas todos convergem na mesma ideologia. E isso e algo que nos compreendemos bem. Mais, ha uma sintonia perfeita entre o que, por exemplo, defende Cantona para banca internacional e o wikileaks.

Porque ha um acontecimento, ou varios, a suceder neste exacto momento. Uma Asia que cresce ameacadoramente perante os EUA e Europa. Uma Europa de rastos, sujeita a tirania economica alema que ameaca fazer ruir o unico projecto de federacao de estados independentes bem sucedido da actualidade. Uma Europa que se recorda e nunca aceitou o imperialismo germanico. Uma Europa, tal como 1914, novamente tambem a merce do oportunismo britanico que aguarda pacientemente o desfecho da situacao. Uns EUA que vao recuperando a economia devagar, mas com a sua divida soberana segurada por Beijing e paises arabes do Medio Oriente.Um sistema totalitario(globalizacao) que deduziu a soma de todos esses (d)efeitos. Totalitario, porque nunca se preocupou com os cidadaos. Apenas economicismo e modelos de sucesso. Ora vejamos, que eram a Irlanda e a Islandia ate cinco anos atras?

Casos de sucesso, sustentados a esfera global. A logica da eficiencia. Maquinas de fazer lucros fabulosos a custa da especulacao financeira.

E agora? Voltaram as suas origens. Uns na pesca. Outros colhendo batata. Para nao morrerem a fome. Quando eu vi idosos a fazerem-se ao mar na Islandia para pescar 4-5 quilos de peixe/dia para revenda, fiquei atonito. Sobretudo, porque alguns deles eram ate pouco tempo consultores financeiros, advogados e analistas politicos. Pilares do sistema, bem dito.

Em Portugal, um governo e um presidente abdicaram da soberania, e hoje respondem directamente a Berlim. Alunos exemplares, adoptam medidas a torto e a direito e ainda assim, uma ou duas agencias de rating fazem figas, e mandam-lhes tomar ar no Tejo. De que vale tanto esforco? Se um sistema totalitario global (agencias de rating) pode desancar todo um esforco soberano de endireitar um pais?

Por isso, e com razao, ha que desencadear uma contra-accao de cidadania com efeito e profundidade para tentar mudar o paradigma. E no quadro actual, mais do que protestos de rua e fora mundiais de intelectuais "falando grego" como alternativa a Davos, ou as elucubracoes loucas de um Chavez, Ahmadinedjad ou ate Kim-Jong-Il, nada mais eficaz do que o Wikileaks, que funciona afinal, como uma demonstracao por absurdo de como o sistema actual esta falido e devera ser exumado.

Nao numa perspectiva iluminista total de Marx, mas ao menos, com base em muito da sua retorica. E quanto a isso, acho que de todos, Assange foi o unico que se mostrou mais eficaz.