Mais um pouco desta série (mapa em epígrafe do Spiegelonline aqui, pode também ver um outro mapa elaborado pelo Guardian aqui).
4. WikiLeaks e ciberactivismo (continuidade deste ponto do sumário). Observei no número anterior que, em função dos eixos de luta ciberactiva que apresentei, há cinco perguntas a ter em conta: pode o WikiLeaks ser considerado (1) um movimento terrorista?; (2) um movimento anarquista?; (3) um movimento social?; (4) o equivalente ou o substituto electrónico dos protestos sociais clássicos de rua?; (5) traduz o movimento a transição para um novo mundo?
Passo de seguida a uma tentativa de resposta à primeira pergunta.
Escreveu um dia Alcméon, filósofo pré-socrático e médico grego, que "os deuses têm certezas, enquanto que aos humanos só resta a conjectura". Podemos chamar ao WikiLeaks o problema de Alcméon, um problema que recobre muitas facetas e muitos prismas desde que foram libertados os males e os demónios da caixa de Pandora.
Então, duas vertentes analíticas são possíveis no problema de Alcméon, dependendo do ângulo em que nos situarmos e dos interesses que defendermos: encarar WikiLeaks como um movimento legítimo de Espártacos em luta de barricadas digitais contra os senhores do mundo, seus segredos e suas técnicas cada vez mais sofisticadas de controlo humano (aqui); ou, pelo contrário, criminalizados e judicializados, tê-los como os inauguradores do terrorismo digital, para usar a expressão de um comentador que, esgrimindo três pressupostos, pensa na vulnerabilidade do que chama sociedades "livres e abertas".
Com outras palavras: do ponto de vista de uma variedade de actores planetários que, mais do que consumir o social, o analisa, o critica e a ele resiste face às regras impostas pelos senhores do mundo, WikiLeaks é um exercício de luta saudável em favor de um mundo diferente; do ponto de vista do Estado norte-americano e dos agentes estatais na generalidade no planeta (mas há excepções, Cuba, por exemplo: aqui, aqui e aqui), WikiLeaks é um perigoso grupo de terroristas ou disso vizinho, um inimigo do Estado, um subproduto digital dos métodos da Al-Qaeda (por exemplo, confira a posição da republicana Sarah Palin, aqui), uma versão ocidental de Osama bin Laden.
O que chamamos realidade é, afinal, uma interpretação no processo de comunicação: esta, a filosofia construtivista da Escola de Palo Alto aplicada aos processos terapêuticos em psicologia e psiquiatria, mas que nada custa adaptar a todos os processos sociais, como acabais de verificar.
Prossigo mais tarde.
(continua)
Adenda: a qualquer momento, como é meu hábito neste diário, posso introduzir emendas no texto em epígrafe.
2 comentários:
Excelente série! Bom Natal e prospero Ano Novo, Professor!
Obrigado, retribuo os votos.
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