20 setembro 2011

Sobre a qualidade do ensino em Moçambique (9)

"Eu mesmo tenho frequentemente lembrado que, se existe uma verdade, é que a verdade é um lugar de lutas." (Pierre Bourdieu)
Avanço na série, mantendo-me no segundo ponto do sumário proposto.
2. Qualidade e ensino: o problema das definições Observei no número anterior que "O ensino é, em primeiro lugar, das escolas às universidades, um instrumento destinado a produzir e a reproduzir determinadas relações sociais." A propósito, vou permitir-me reproduzir uma passagem de um texto que li: "De acordo com o Banco Mundial são duas as tarefas relevantes ao capital que estão colocadas para a educação: a) ampliar o mercado consumidor, apostando na educação como geradora de trabalho, consumo e cidadania (incluir mais pessoas como consumidoras); b) gerar estabilidade política nos países com a subordinação dos processos educativos aos interesses da reprodução das relações sociais capitalistas (garantir governabilidade). Aqui.
Prossigo mais tarde. Crédito da imagem aqui.
(continua)

3 comentários:

Salvador Langa disse...

Ora aqui está, em cheio.

Xiluva/SARA disse...

Desculpe mas mal vejo aquele "qualidade do encino" desato a rir....ehehehehe....

ricardo disse...

Efectivamente, quando ouvi o Dr. Brazao Mazula, ainda reitor da UEM, coadjuvado pelo eng. Venancio Massingue a falarem de capacity building e reforma curricular para responder "...as exigencias do mercado..." e outras bolonhesas academicas, pensei para mim:" ...sera possivel que estes PHDs, nao conseguem perceber que o MERCADO e dinamico e a academia e CONSERVADORA?..." Quase me enganei, ate ler textos parecidos com o que o sr. Professor cita, Pois ate entao, interrogava-me sobre a questao das areas prioritarias das bolsas de estudo dos doadores, que quase sempre nao afinavam com a REAL AGENDA de desenvolvimento de Mocambique. Clarifico:" No estagio em que estamos, sera mais prioritario ter advogados, economistas, gestores e publicitarios, ou engenheiros, medicos, biologos, fisicos e matematicos? Tudo isso, para corroborar com o segundo ponto. E vou mais longe. Os poucos que por ai andam, exercem realmente a sua profissao, ou se converteram tambem em advogados, economistas, gestores e publicitarios (consultores)? Eu recordo aos leitores deste blogue, que foram varios os ministros (e primeiros-ministros) desde 1986 que defenderam o modelo "SOCIEDADE DE SERVICOS" para Mocambique, quando se lhes colocou varias vezes a questao da industrializacao e agricultura. Sobretudo um deles (Mohamed Rafik), que tambem esteve ou ainda esta ligado ao CPI, entidade-mor que promove investimento estrangeiro neste pais. Mas alguem imagina o que e um habitante de uma sociedade de servicos? E um mandarete, um office-boy com curso superior, um elemento neutro da adicao/multiplicacao. Nao constroi, anula. Nao constesta, demarca-se. Nao problematiza, reproduz. Funciona como um elo de ligacao entre dois mundos. O desenvolvido e o primitivo. Como um cipaio, como um capitao do mato. Como um capataz. Eis o miolo do nosso modelo educacional. Portanto, como diria um conhecido habitante de uma favela do Rio de Janeiro "...Esta tudo dominado!...". Logo, o que fazer?

Primeiro que tudo, recuperar a ideologia nas decisoes dos politicos. E tempo de aviar os tecnocratas. E nao e por eles serem "analfabetos politicos" na definicao de Brecht, mas porque se tornaram mentirosos com talento. Tao bem o fazem, que por vezes, ate se confundem com verdade. E isso, e muito perigoso. Quem e capaz de defender um sistema de educacao que comprovadamente possui alunos da 5a classe incapazes de ler e fazer operacoes aritmeticas basicas, com relatorios de doadores e argumentos falaciosos de intelectuais de polichinelo de uma suposta "auto-determinacao negra", que tal como nos mostra a publicidade da LAURENTINA, nem com canudos se la chega, e perfeitamente dispensavel do exercicio actual, onde deveriamos e agir inteligentemente perante as actuais dificuldades dos paises exportadores de tecnoclogia e transformadores de materia-prima,isto e, capitalizar a sua dificuldade em manter um crescimento economico, tal como no passado, no pos-independencia, a diplomacia mocambicana tao bem fazia. Mesmo em guerra, Mocambique sempre teve uma agenda patriotica nas suas relacoes externas. Hoje, tem uma agenda comercial "DEVE & HAVER". Onde esta a ideologia? O que nos une como Mocambicanos? Algo que as Mauricias ou Seychelles e tantos outros pela Asia se fizeram, por isso, hoje, vem ca alugar terras e deixar algumas migalhas para os seus capatazes. Eu ja o disse aqui: Nao me importaria nada que fossem abertas aqui filiais de Harvard ou Cape Town, com beneficios fiscais do Estado mocambicano, ainda que isso implicasse no encerramento do ISPU ou do ISCTEM...