19 setembro 2011

Sobre a qualidade do ensino em Moçambique (8)

"Eu mesmo tenho frequentemente lembrado que, se existe uma verdade, é que a verdade é um lugar de lutas." (Pierre Bourdieu)
Avanço na série, mantendo-me no segundo ponto do sumário proposto.
2. Qualidade e ensino: o problema das definições. No meu entender, o ensino é bem mais do que a transmissão de conhecimento visando instruir e educar pessoas nas escolas. Por outras palavras, o ensino é bem mais do que um conteúdo técnico tecnicamente analisável. O ensino é, em primeiro lugar, das escolas às universidades, um instrumento destinado a produzir e a reproduzir determinadas relações sociais. A este nível estamos confrontados com o problema de Platão. Então, na lógica do meu argumento, definir qualidade é uma tarefa complexa.
Prossigo mais tarde. Crédito da imagem aqui.
(continua)

4 comentários:

Salvador Langa disse...

Ora aqui está uma padra no sapato do ensino dito "geral".

Salvador Langa disse...

Desculpe, quis dizer pedra.

nachingweya disse...

Quer dizer que se for do interesse de quem determina as relacoes sociais em determinado momento historico criar um bando de cidadaos acefalos, a excelencia da qualidade de ensino sera justamente o 'desensino'.
Começo a perceber porque razão a classe dirigente manda os filhos estudar para o fora enquanto internamente até cria uma direcção nacional inteira para a gestão e qualidade do ENCINO.
Assim bronze e ferro se misturam de modo controlado enquanto, com menos controlo, o ouro e a prata se procuram nas suas esferas.

ricardo disse...

No tempo colonial, de acordo com obra "Portugal e Capital Multinacional em Mocambique 1500-1973" de Elisio Maritns, a mecanica era a mesma, mas com uma ligeira diferenca. Pois alguns brancos (os de 2a) so podiam colocar seus filhos a estudar nas escolas tecnico-profissionais e com sorte na ULM. Enquanto os outros (os de 1a) mandavam os filhos para o exterior, sobretudo a R.S.A. e Portugal. Contudo, isso nao e a meu ver JUSTIFICATIVA para nao se saber explicitamente o que e qualidade de ensino hoje em Mocambique. Os que velam pela Educacao deste pais, os planificadores, os executores e os criticos deveriam ser mais assertivos e nao colocarem a tonica em vas filosofias, que servem de boa aspirina-social para todos os que pugnarem por um mundo melhor e mais justo...
E isto, nao e uma questao de ser de esquerda, de centro ou de direito. E uma licao tambem da mesma Historia que nos remete a Platao. A RSA, foi feita a pulso com desterrados e analfabetos essencialmente. A Australia e a Nova Zelandia, nao seriam hoje paises prosperos se criminosos de delito comum, da menor escala social da Metrople para la nao tivessem sido desterrados. O Brasil, idem. E os EUA , em hipotese alguma, seriam hoje o pais mais poderoso do mundo, pelas mesmas razoes.
Portanto, se aceitarmos o conformismo das palavras filosoficas e da inevitabilidade historica, entao, e legitimo que em nome de melhor educacao e ascencao social, os mais desfavorecidos da nossa escala social destruam o patrimonio da elite e raptem seus filhos quando estes forem as escolas onde nunca poderao estudar, para que esta se nivele com eles tambem. Imaginem o que seria, se assim fosse.
Por isso, que vertam as ideias das mentes brilhantes que escalam este blogue. Eu - leigo e pobre na escala social - lancei o meu ponto de vista uns posts atras. Espero que - os sabedores e ricos na nossa incipiente escala social - digam tambem de sua (in) justica e nao se remetam ao silencio dos arrogantes, como tem sido ate agora perante assunto tao estruturante da nossa sociedade contemporanea.

Dixit