07 junho 2011

Sobre ritos de iniciação feminina à maturidade em Moçambique (6)

Desinstalemos os mitos (Sebastião Alba)
O sexto número desta série, suscitada por textos aqui e aqui.
Entro, agora, no terceiro número do sumário que vos propus, intitulado Ritos de iniciação em Moçambique.
O nosso país é historicamente rico em ritos iniciáticos dos mais variados tipos. No que concerne aos ritos de ascensão à maturidade em meio rural (ou adaptados a meios urbanos, como sucede em Maputo) destacam-se as províncias da ZambéziaNampulaCabo Delgado e Niassa.
Esses ritos iniciáticos são atravessados pela história, quer dizer, têm sofrido transformações desde o colonialismo.
Contudo mantém-se inalterável o objectivo: preparar os jovens para a maturidade, integrá-los nas normas identitárias linhageiro-regionais, conferir ordem e perdurabilidade às tradições e aos grupos.
Prossigo mais tarde.
(continua)

4 comentários:

Salvador Langa disse...

Ora aqui está, precisamos saber mais do que a historia das raparigas fechadas 3 semanas a aprender os segredos sexuais.

izumoussufo disse...

Ainda hoje o Povo Makonde pratica.

Anónimo disse...

Na natureza, plantas e animais tem como missão principal perpetuar as espécies.

Começamos por ser simples Machos e Fêmeas! É pois natural que, instintivamente, as sociedades mais primitivas (donde,queiramos ou não, viemos e onde muitos dos nossos antepassados permanecem em diferentes graus de desenvolvimento)continuem preocupados com a preparação dos adolescentes, e em particular da mulher, para assegurarem a reprodução.

Os ritos de iniciação, na realidade, mais do que incutir sentimentos para com futuros parceiros, preparam as/os jovens para a reprodução.

Ainda hoje, em muitas zonas do país, concretamente na Zambézia, findos os ritos de iniciação, as jovens provocam adultos incitando-os a com elas terem relações sexuais (prática aceite pela comunidade),para provarem ter atingido o Estatuto de Mulher.

Mais do que sexo, entre o adulto e a adolescente/criança iniciada, celebra-se a perpetuação da espécie, da vida.

Mas,à medida que os níveis de desenvolvimento das comunidades (homem/mulher) crescem, os ritos de iniciação e outras práticas vão sendo substituídos pela informação, no quadro de novas convenções, donde:

> No meu entender, mais do que valorizarmos os ritos de iniciação, importa concentrarmos esforços no desenvolvimento das comunidades rurais: "não haverá povos e países desenvolvidos, enquanto o Homem, ele próprio, continuar sub-desenvolvido".

> Respeitemos, mas não sobrevalorizemos as práticas tradicionais: concentremos esforços no desenvolvimento do homem/mulher.

Anónimo disse...

Ao último comentador,

Claro e muito bem dito, mas lembra-te sempre que são, na maioria, as "comunidades tradicionais" que mais praticam os ritos de iniciação na forma referida pela UNICEF, mas não são os ritos de inciação que são maus em sí. Ja ficou provado que é uma prática verificada por todos os povos.

Eu, sinceramente, não vejo qual é o problema de valorizar os ritos de iniciação, pois é uma manifestação cultural da humanidade. Veja que no sul de Moçambique ainda se pratica o lobolo, mas nas cidades resta apenas a simbologia do ritual em si e não mais o pagamento do dote como uma "compra" da noiva. Lá no Niassa, as comunidades próximas da cidade ja fazem recurso à antibióticos em caso de complicações resultantes da operação dos rapazes. Por isso, ja estamos a viver as mudanças e ja não há comunidades isoladas que possam manter as suas tradições intáctas. (até a última tribo indigena da Amamzonia já foi "contactada").

Não tenho medo de valorizar a minha cultura, as minhas tradições, pois se eu não o fizer, não será uma togolesa ou uma espanhola a fazê-lo por mim.

A. Katawala