12 junho 2011

Mudar sem mudar (2)

O segundo número desta nova série.
Permitam-me prosseguir no tema apelando para uma história bizarra que nem todos conhecem.
Nas terras do vale do Zambeze (muitas vezes erroneamente chamados prazos), nos séculos XVIII e XIX, a morte de um muzungo ou de uma sinhára (corruptela de senhora, também chamada dona) dava origem a uma situação anómica generalizada. Os cativos do falecido ou da falecida provocavam desmandos de todo o tipo (incluindo ataques a comerciantes de passagem), obrigando os camponeses locais a fazer kulira (=chorar; nos documentos coloniais surge também o termo xoriro ou choriro). Efectuada a destruição, feita a pilhagem, processado o linchamento colectivo, chegava-se a um momento em que, finalmente, era eleito o novo muzungo ou a nova sinhára/dona. Então, rapidamente, as instituições, as hierarquias e as diferenças sociais eram repostas - contei isto no meu livro Combates pela mentalidade sociológica.
Pergunta: tem o kulira ou o xoriro/choriro em vista destruir a ordem reinante?
(continua)

1 comentário:

Salvador Langa disse...

Não conhecia isto.