"Segundo dados estatísticos coligidos, o país registou, no ano de 2016, em média, dois linchamentos por semana. Os números demonstram, infelizmente, que os linchamentos tornaram-se uma prática da realidade moçambicana [...]. [...] o linchamento é um problema social que não pode ser solucionado, primariamente, por acções repressivas, devendo dar-se primazia às acções de prevenção como a promoção de debates [...] - Informação Anual do Procurador-Geral da República à Assembleia da República [2017], pp. 37-38.
Número inaugural da série aqui. Prossigo com a primeira pergunta e a continuidade da resposta.
Celso Ricardo: Regra geral, por que os linchamentos não ocorrem dentro da cidade de cimento?
Eu: Estamos perante um exercício de privatização criminogénea da justiça. Por hipótese, este tipo de crime colectivo pode situar-se na figura do crime “por sentimento de justiça”, provocado por um sentimento de frustração. Em sua elementaridade, trata-se de um crime cometido como resposta a uma injustiça, real ou imaginada, que se acredita ter sido exercida sobre uma comunidade ou uma família. Ladrões ou feiticeiros atormentam as pessoas, a polícia é suposta não agir eficazmente, então pessoas juntam-se e lincham o ou os supostos autores do mal. Esse grupo de pessoas torna-se como que a versão vingativa local de Michael Kohlhass, protagonista – com o seu bando - do romance de Henriche von Kleist. [resposta à pergunta prossegue no próximo número]
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