Não são poucos aqueles que têm um imenso jeito para quadricular o país sempre da mesma maneira, dividindo-o em etnias, em grupos linguísticos, gramáticas culturais, hábitos, costumes, etc. Se decidirem embalar isso com um relatório ou um seminário, o prato tradicional está pronto a servir. O pronto a servir discursivo é clássico: na região xis temos a etnia tal, o grupo linguístico tal, o casamento é matrilocal e por aí fora. Tudo com a precisão de um relógio e a solidez robusta das crenças. É como se o país fosse um frigorífico onde cada prateleira guarda uma tradição definitiva, imutável. De vez em quando retira-se o produto para se provar um pouco, para se lhe acrescentar um detalhe, após o que o recolocamos lá onde deve estar, na imobilidade protegida contra os assaltos deletérios da história e da mudança.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
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