Os noticiários surgem regra geral como produto neutro, como a fotografia real, imediata, exacta, do que acontece no país e no mundo. Porém, se quisermos sair da sedução em que nos envolve o ar sério do (a) locutor (a), teremos que ter em conta dois fenómenos imbricados: 1) o noticiário não existe em si, é produto de uma seleção socialmente determinada, de um prisma, de um ângulo político e politizado [frequentemente tão mais politizado quanto mais neutro pretende ser] de visão; (2) no preciso momento em que é notícia, evento, comezinho ou fantástico, alegre ou triste, o noticiário cria a distância, dá-nos, domesticado, triturado, como que pronto-a-servir, o mundo em toda a sua dramaticidade e complexidade, distrai-nos, aproxima-nos afastando, transforma o social em espectáculo, em soporífero. O fait divers, tão frequente na nossa televisão, faz parecer geral o particular, corrente o singular. Sentimos sem sentir, choramos sem chorar, pensamos sem pensar.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
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