Em 2006 coloquei neste diário uma descrição da cidade de Tete. Recordo-a: "Tete, mitete. Regresso às origens. Chingodzi, desço do avião, apalpo com os olhos todo aquele imenso e calmo mar de embondeiros. Uma planície sem árvores rasteiras, o calor embrulha-me, Matundo. Localizo o velho rochedo onde habita Tsato, a gibóia mítica. O casario visto da ponte, abraçado ao Cuama dos livros, o Zambeze, cumprimento os espíritos manhungué do rio. A cidade, as ruas largas, um presente buliçoso preso à história dos mutapas do Chioco e dos muzungos de terras e de guerras do Zumbo e do Massangano. O passado regressado nos escombros do velho prédio do Carlettis, do casarão tombado de Vieira o "chicauira". Sonho as maçanicas enquanto como pende encostado ao Zambeze, lá onde na minha infância a velha canhoneira chegava resfolegando vinda do Chinde, carregada dos lanhos que eu sempre guardei nos sonhos. Miro a ilha de Canhimbe à esquerda. À direita, longe, orgulhoso, o pico da Caroeira. Quem se lembra que um dia ali houve um botequim onde um homem creio que careca servia galinha assada no carvão e cerveja gelada pela frescura da noite e onde nas fraldas de micaia, por madrugadas sem fim, os macacos-cães esperavam que o leopardo saísse da toca? Adormeço num quarto da Univendas." Aqui.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
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