Parece-me oportuno repetir um texto antigo deste diário, com o título em epígrafe, a saber:
No racismo actua-se por marcadores físicos elementares - é a racialização do social; no etnicismo, por marcadores simbólicos (língua, "costumes", anterioridade de chegada a um território, heróis epónimos) da comunidade imaginada de origem - é a etnicização do social; no xenofobismo, por marcadores simbólicos alargados ou globais da comunidade imaginada alargada (nação) - é a nacionalização extrema do social. No racismo temos a visibilidade somática, no etnicismo a visibilidade das pequenas raízes originárias e, no xenofobismo, a visibilidade agrupada das grandes raízes originárias. É racista quem defende a superioridade sócio-genética de um grupo; é etnicista quem defende a superioridade da sua comunidade imaginada de origem; é xenofobista quem defende a preeminência e a supremacia de uma nação. Nos três casos está em jogo a luta pelo monopólio dos recursos de poder em função de marcadores: pigmentação no primeiro caso, pequena comunidade imaginada no segundo, grande comunidade no terceiro. Racismo, etnicismo e xenofobismo são exercícios sociais de inclusão/exclusão que, interiorizados, assumidos, funcionam como os semáforos (o verde para os nossos, o vermelho para os outros). Todavia, não podemos colocar fronteiras absolutas entre os três fenómenos. O xenofobismo, por exemplo, pode surgir vestido de etnicismo ou de racismo. A permeabilidade é, muitas vezes, imediata, as fronteiras são fictícias e porosas. À força de se sentir o diverso e de o produzir como símbolo e acto, atinge-se a intolerância mesmo quando se faz a apologia multicultural. Tecemos e retecemos, então, com o ardor de Penélope, o espírito da casa fechada. Nos casos mais extremos e trágicos, aqueles da alteridade absoluta erigida em armas e extermínio, racismo, etnicismo e xenofobismo dão origem a um corpo doutrinário para o qual se busca uma fundamentação científica. Porém, os seres humanos não nascem racistas, etnicistas ou xenofobistas. Tornam-se nisso devido às lógicas combinadas de três fenómenos: interacção social, disputa de recursos de poder e educação. É aqui que se tecem os sistemas de referência e os meandros categoriais, é aqui que crescem, se consolidam e se naturalizam os jogos de alteridade, adesão e repulsa.
No racismo actua-se por marcadores físicos elementares - é a racialização do social; no etnicismo, por marcadores simbólicos (língua, "costumes", anterioridade de chegada a um território, heróis epónimos) da comunidade imaginada de origem - é a etnicização do social; no xenofobismo, por marcadores simbólicos alargados ou globais da comunidade imaginada alargada (nação) - é a nacionalização extrema do social. No racismo temos a visibilidade somática, no etnicismo a visibilidade das pequenas raízes originárias e, no xenofobismo, a visibilidade agrupada das grandes raízes originárias. É racista quem defende a superioridade sócio-genética de um grupo; é etnicista quem defende a superioridade da sua comunidade imaginada de origem; é xenofobista quem defende a preeminência e a supremacia de uma nação. Nos três casos está em jogo a luta pelo monopólio dos recursos de poder em função de marcadores: pigmentação no primeiro caso, pequena comunidade imaginada no segundo, grande comunidade no terceiro. Racismo, etnicismo e xenofobismo são exercícios sociais de inclusão/exclusão que, interiorizados, assumidos, funcionam como os semáforos (o verde para os nossos, o vermelho para os outros). Todavia, não podemos colocar fronteiras absolutas entre os três fenómenos. O xenofobismo, por exemplo, pode surgir vestido de etnicismo ou de racismo. A permeabilidade é, muitas vezes, imediata, as fronteiras são fictícias e porosas. À força de se sentir o diverso e de o produzir como símbolo e acto, atinge-se a intolerância mesmo quando se faz a apologia multicultural. Tecemos e retecemos, então, com o ardor de Penélope, o espírito da casa fechada. Nos casos mais extremos e trágicos, aqueles da alteridade absoluta erigida em armas e extermínio, racismo, etnicismo e xenofobismo dão origem a um corpo doutrinário para o qual se busca uma fundamentação científica. Porém, os seres humanos não nascem racistas, etnicistas ou xenofobistas. Tornam-se nisso devido às lógicas combinadas de três fenómenos: interacção social, disputa de recursos de poder e educação. É aqui que se tecem os sistemas de referência e os meandros categoriais, é aqui que crescem, se consolidam e se naturalizam os jogos de alteridade, adesão e repulsa.
1 comentário:
Já conheço este trabalho, um paradigma de síntese.
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