26 janeiro 2014

Ritos de iniciação feminina: o protesto de Nilsa

Na sua página do Facebook, Nilsa Domingos (na imagem à esquerda), que se encontra em Cabo Delgado, escreveu o seguinte: "Ritos de iniciação feminina...ritual que marca a passagem da criança para a fase adulta, participam deste ritual crianças dos seus 8 a 13 anos de idade, e elas aprendem a não dizer não aos homens, aprendem a satisfazer sexualmente os seus homens e a ser submissas aos mesmos, e estas mesmas crianças dois anos após a saída dos ritos são elas que estão a cuidar dos seus filhos...ou seja são crianças a cuidar de crianças ....enfim. [Desafio as entidades competentes a reflectir sobre os direitos das crianças e sobre os direitos sexuais e reprodutivos que estão a ser violados..." Aqui.
Adenda: confira os resultados de uma pesquisa sobre ritos de iniciação no país, aqui.

5 comentários:

nachingweya disse...

O problema social das sociedades multi tribais é achar o ponto de interseção dos diferentes valores tradicionais para a formulação de um conjunto de valores e princípios sob os quais todos e cada um devem concordar acreditar e obedecer. Esses princípios e valores devem sobrepor-se ao indivíduo, ao clã , grupo ou tribo.
Se todos concordarmos que casar uma criança de 10-15 anos é crime e se pelo ordenamento jurídico vigente quem deve responder pelo crime são as pessoas de maioridade envolvidos, devemos julgar essas pessoas.
O Ministério da Cultura, penso, devia ter estas questões na sua agenda de forma mais activa do que andar pelo país a edificar mausoléus para compatriotas cuja história já ,em si, é uma estátua .

aspy disse...

Olá, Nilsa Domingos.

No teu breve post sobre os "Ritos de iniciaçäo" fazes referência a idade dos participantes, a submissão das raparigas aos homens, a maternidade precoce, etc, etc. É verdade que alguns dos factos por ti relatados são uma realidade nas comunidades tradicionais e, consequentemente, nos rituais praticados por essas comunidades mas, tenha muito cuidado com a generalização dos factos e a redução de todo um ritual aos aspectos negativos por ti apontados. Os "Ritos de Iniciação e de Passagem" são muito mais do que o folclore que assiste nas "ruas de Cabo Delgado"

Desafio a Nilsa a descer desse carro e ir conviver directamente com esta gente.

Eu tenho trabalhado com duas comunidades Yao, lá nas terras do Niassa e tive a oportunidade de partilhar com os leitores deste blog parte do meu trabalho sobre os ritos de iniciação do povo Yao. Os Yao também praticam os "ritos de iniciação" e Unyago é assim que se chama. Unyago significa, na língua Yao, iniciação.

Por causa de alguns dos aspectos que referiste no post, o Unyago passou a ser proibido no período pós-independência e como conseqüência disso, as comunidades "fingiram" para o mato, para longe do controle das autoridades governamentais e continuaram a praticar o Unyago, com prejuízos na freqüência da escolaridade das crianças e jovens participantes. Foi assim que este ritual resistiu entre as comunidades lá do Niassa.

Hoje o Unyago está de volta às comunidades e aos sítios onde elas vivem (por isso a Nilsa pode assistir em plena rua), são organizadas por todos (autoridades tradicionais e governamentais) e em coordenação com a AMETRAMO.

Por tanto, é preciso ter muito cuidado ao tocar num assunto tão sensível como é este e como pensa o nachingweia e muito bem pensado, "O Ministério da Cultura, penso, devia ter estas questões na sua agenda de forma mais activa do que andar pelo país a edificar mausoléus para compatriotas cuja história já ,em si, é uma estátua".

A. Katawala

Unknown disse...

Olá, sim concordo plenamente com tudo que o senhor Katawala disse ...! Primeiro devo dizer que Os ritos de iniciação de que me refiro é do distrito de Muidumbe -Norte de cabo Delgado( se calhar errei por não ter especificado) ...não estou aqui a falar sem conhecimento de causa, ainda no final do ano passado fez um estudo cá (ainda não publicado) sobre os ritos de iniciação Maconde ( Muidumbe) onde procurou se junto das matronas e das meninas que já passaram por este rito,como este decorre, o que é lá ensinado, qual a idade de entrada, tempo de permanência...e correlacionou se estes aspectos com a educação , saúde sexual e reprodutiva e ainda com o HIV/SIDA..!!
E foi a partir desse estudo tiramos algumas conclusõe( acima citada) e é claro que estás conclusões não se generalizam porque cada contexto é um contexto...ou melhor cada rito de iniciação eh um rito de iniciação...

Contudo devo agradecer pelas observações e pelo seu contributo ....

Nota bem: aviso quando se publicar o estudo ....

Obrigada Nilsa Domingos

aspy disse...

Nilsa, na boa e cá estarei a espera de mais esse contributo na "problemática" dos Ritos de iniciacao.

O teu protesto é muito bem válido e deves continuar a protestar e direccionado ao Ministério da Cultura (e da Educacao).

A. Katawala

João Cabrita disse...

Nilsa Zibane e A. Katawala, quando os vossos estudos estiveram disponíveis, agradecia ser notificado por correio electrónico (na eventualidade de me escapar a notícia divulgda neste blog) :

cabritajm@gmail.com

Muito obrigado