05 julho 2012

Liga dos Estudantes Comunistas de Moçambique (27)

Vigésimo sétimo número da série, prosseguindo na décima quarta questão:
Carlos Serra: Que tipo de acção política defendeis?
Régio Conrado: (continuidade da resposta anterior, CS) Mais ainda! Nós queremos desenvolver ou contribuir para o desenvolvimento de uma perspectiva de compreensão que ultrapasse os intuitivismos impostos ou mesmo aquelas que não aceitam outras perspectivas antes de compreendê-las. E nós não somos e não pretendemos ser um partido político, como muitos poderão pensar, mas simplesmente um movimento social que contribui com suas ideias e estudos para o progresso de Moçambique (continuidade da resposta no próximo número, CS).
(continua)

9 comentários:

Anónimo disse...

Uma duvida: será que estes jovens concordam com a propriedade privada (dos meios de produção)?

Regio Conrado disse...

Bom dia sr. Anomimo! Somos defensores de uma sociedade em que todos tenham a possibilidade de viver fora da miséria, da fome e da desgraça permanentes e nos sabemos que essas situações são causas pelos próprios processos de desenvolvimento, de acumulação de capital entre outras questões, inclusive a própria propriedade privada. Não estamos a dizer que a propriedade privada deva inexistente de todo pois que o problema são o que detêm dessas propriedades. A propriedade nao e algo necessário mas contingente. e possível ultrapassar a fase da existência da propriedade privada para uma fase diferente. Nos negamos que a saude seja uma propriedade privada, a educacao igualmente o seja, as pessoas igualmente o sejam. Isto acontece no sistema capitalista em que tudo e reficado ou coisificado. Tudo e propriedade, propriedade privada. na essencia nao defendemos a propriedade privada nos termos colocado por Locke, Beltham e Mill. Pensamos que a propriedade privada vem igualmente justificar as desigualdades entre os homens...

Anónimo disse...

O que entendo é que os Senhores defendem que a propriedade privada NãO deve existir. Não precisam se justificar, dizendo que "Não estamos a dizer que a propriedade privada deva inexistente de todo...". Isso é sempre o principio. Mas não sabemos o que é "toda propriedade privada" para vocês e por isso temos que pôr as nossas barbas de molho, porque vocês é que vão, em ultima instância, definir o que é "toda". O "toda" só está nas vossas cabeças.
Não precisam de justificar as vossas ideias com nomes de pessoas que muitos aqui não conhecem.
O que eu, e muitos pacatos cidadãos, que têm a sua casa, o seu negocio (mesmo que seja de educação ou saúde) querem saber é: se os Srs. algum dia chegarem ao poder não se vão incomodar com os bens temos e os vai nacionalizar, como aconteceu em 1975. Isso eu NÃO gostaria de voltar a viver.
Ademais, a minha experiência mostra que essa forma de viver não leva a nenhum lado, senão à guerra e aos conflitos, como já aconteceu mesmo aqui em Moçambique.
Deixe as pessoas trabalharem e construírem as suas riquezas. Não proíba as pessoas de terem as suas iniciativas e crescerem! O demais são teorias e retórica, bonita, mas que não enchem a barriga...

ricardo disse...

Em suma, apos inumeros comentarios, de glosas, de citacoes finalmente concluo que o vosso projecto assemelha-se ao do Bloco de Esquerda de Portugal. Inspeccionar a governacao, mas jamais ser parte dela. Ou seja, um grupo de pressao imanado do contra-poder mediatico como contra-ponto a dita sociedade Civil "a mocambicana".

"E o que faz falta para animar a malta..."

nachingweya disse...

Percebi a dúvida de Anónimo, não percebo o esclarecimento de Regio Conrado.

"Não estamos a dizer que a propriedade privada deva inexistente de todo pois que o problema são o que detêm dessas propriedades."

O problema não é propriedade privada (dos meios de produção), o problema é o dono da propriedade? Mudando de dono?...

"...na essencia nao defendemos a propriedade privada nos termos colocado por Locke, Beltham e Mill. Pensamos que a propriedade privada vem igualmente justificar as desigualdades entre os homens..."

Em que termos é que na óptica do comunismo a propriedade privada(dos meios de produção se torna defensável, aceitável?

Regio Conrado disse...

Meus senhores! O que estamos a dizer e que a propriedade privada em si, em ultima instância, precisa de ser controlada pois que para aquilo que são os nossos objectivos como um grupo a propriedade privada acaba sendo um dos pontos que precisa ser redimensionado. Nao se esta a dizer que as pessoas nao possam a sua casa, a sua esposa, o seu filho, o seu carro, o seu alfinete. Não e isso que estamos a dizer. O que nos não queremos e vermos alguém com dez casas, dez carros, dez alfinetes, dez galinhas enquanto o seu vizinho morre de fome, de nudez, de ma nutrição. Isso não podemos aceitar. Se, hoje, as pessoas enriquecem isso e bom mas quem e que de facto enriquece? a custa de quem? O que queremos e que haja possibilidade de todos poderem usufruir das potencialidades, riquezas que o pais detém.As pessoas pensam que o comunismo lhes retira a sua casa, o seu carro transformando isso e bem colectivo mas na verdade o que o socialismo e comunismo defendem e socialização dos meios de produção. O que e que isso quer dizer? Quer dizer que os meios de produção não mais pertencerão de todo aos capitalistas, burgueses, especuladores. Ou seja, o estado tem de transformar os meios de produção que estarão sob sua tutela em meios de produção de todos e de acordo com a capacidade de cada um e depois de todos terem o suficiente para viver, então pode-se pensar não necessariamente em propriedade privada mas em propriedade de uso privado que quando exagerado deve ser redistribuído. Não se trata de nacionalizar tudo mas simplesmente criar condições para que os pobres nesta altura igualmente possam sonhar. O actual cenário do pais mostra que a propriedade privada torna-se hoje uma justificação do enriquecimento desmedido de uns e pauperizacao cronica de outros.
Chamos atencao ao sr Ricardo que não nos comparamos com a sociedade civil em Moçambique porque esta sociedade civil de que fala eu nunca vi, se falarmos rigorosamente. Em termos de ideais não encontramos ainda um sociedade civil em Moçambique que faca um discurso coerente em torno dos diversos assuntos. Muitas vezes a dita sociedade civil nos termos gramiscianos. Morianos e ate demoianos (pedro demo) inexiste.

Regio Conrado disse...

Sr. Nanchingweya! No fundo o que estamos a dizer e que a propriedade privada não pode ser o espírito de uma sociedade pois a sociedade tem mostrado que uns acumulam mais do os outros e isso cria desigualdade e opressão. Nestes termos, não podemos desejar que continue a propriedade do jeito que se encontra. Por exemplo, se ler muito sobre as premissas e fundamentos das privatizações em Moçambique ficara chocado porque verá que na realidade quem terá essa propriedade privada e um grupo minoritário de pessoas, como podemos ver agora. Não e a mudança de donos que nos preocupa mas que se redefina a propriedade privada num contexto em que o estado participa grandemente na definição e resposta das questões económicas. A propriedade privada como e colocado hoje pensamos que não condiz com a humanização da sociedade. A propriedade privada hoje e um instrumento de violência.

ricardo disse...

Mas sr. Conrado, nem todos os pobres estao predestinados a se-lo. Ha pobres que se eternizam na sua condicao porque acreditam que ela deriva do sucesso dos outros.Esse e o problema de fundo que encontro no pensamento de pessoas com Filipe Paunde (um apparatchick nato), o que contribui para reforcar essa crenca nos seus seguidores, que sao um corte transversal dos mocambicanos. Este pais, tem um imenso potencial humanos e material para fazer de cada mocambicano um cidadao digno e com futuro tranquilo. Mas para tal, e preciso bom senso. Coisa que nunca vi.

Por exemplo, eu nao concordo com um programa de alivio a pobreza urbana. Mas ja concordo com um programa de fixacao da juventude fora das grandes cidades, que inclua varios subsidios . Nao concordo a transformacao de dumba-nengues em mercados municipais. Mas ja concordo com a transformacao de camponeses em pequenos grossistas. Eu nao concordo com creditos a fundo perdido, como e o caso dos 7 Milhoes. Mas ja concordo com uma bolsa de valores sociais, onde os mais abastados e o Estado possam distribuir o seu dinheiro aquem realmente necessita e mostra vontade de crescer na vida, ao inves de pagarem reportagens-encomendadas na TV. E por ai em diante...

O meu principio de vida, que tambem e a minha visao politica do mundo, baseia-se na devida retribuicao pela contribuicao de cada um. E nao, pela proclamacao do igualitarismo social. E isso inclui, aceitar o facto do meu vizinho ter talento e esforco de criar 10 galinhas, quando eu nas mesmas condicoes de partida, so consigo ter uma, ou nenhuma. Nos somos pessoas sr. Conrado, nao somos robots ou numeros. Esse foi o erro cometido na RDA.
E o talento de cada um, e algo que so a genetica explica. Esse e que o ponto central que faz o comunismo lidar primariamente com a questao propriedade de cada um, rotulando a maior acumulacao como um pecado mortal e propondo a receita de divisao equitativa do bolo comum, inclusive com os que nada fazem.

nachingweya disse...

Sr Régio
Preocupa-me a falta de consistência entre o que defende a Liga Comunista e a teoria do comunismo sobre a propriedade privada.
Quer parecer-me que o que a Liga pretende é apenas uma moralização da propriedade privada. Talvez nem moralização e sim limitação.
Ora isso não é comunismo.
"O comunismo (do latim communis - comum, universal) é uma ideologia política e socioeconômica, que pretende promover o estabelecimento de uma sociedade igualitária, sem classes sociais e apátrida, baseada na propriedade comum e no controle dos meios de produção e da propriedade em geral.[wikipedia]"
Se pretendemos a cura não podemos pensar que o cancro é mais letal no fígado do no dedo mindinho.