08 dezembro 2011

Como reprovar as reprovações? (3)

Penúltimo número desta curta série.
Falei-vos, no último número, em passos a dar. Mas acho necessário precedê-los de algumas considerações. Quando falamos de alunos ou sobre eles escrevemos, quando falamos de aproveitamento, de reprovações, de qualidade do ensino, etc., ou sobre isso escrevemos, invariavelmente partimos do princípio de que lidamos com entidades e com quantidades neutras. Por outras palavras, o ensino e todo o seu complexo processualismo são por nós colocados em gavetas tecnicamente tratadas, independentemente das relações sociais e das desigualdades nas quais alunos, ensino e resultados estão insertos. E, em seminários, em debates, em bula-bula informal, com os nossos pontos de vista e com as nossas análises, mais raramente com as nossas pesquisas, decidimos que as coisas estão más ou boas, que as coisas más podem ser resolvidas com determinadas soluções. A psicologização permanente e tecnificada de seres e situações, colocando na penumbra as relações sociais que produzem e reproduzem situações sociais assimétricas, são, quanto a mim, uma das razões, se não a principal razão, por que nós - os analistas, os estudiosos - reprovamos em nossas análises, por que não sabemos ler (imagem reproduzida daqui).
(continua)
Adenda: sugiro a consulta da minha série intitulada "Sobre a qualidade do ensino em Moçambique".
Adenda 2 às 9:26: numa escola da Beira a situação é ainda mais complicada, confira aqui.

6 comentários:

Salvador Langa disse...

Excelente.

TaCuba disse...

factores que esquecemos ou não estamos interessados em divulgar.

BMatsombe disse...

No alvo.

ricardo disse...

Ontem, em plena STV, o sr. ministro da Educacao tentou explicar o descalabro dos exames. Segundo aquele quadro superior, tudo se deve ao "NOVO" sistema anti-fraude que o MINED implementou este ano. Logo, os alunos sao todos uns cabuloes. Explicou tambem se numa pauta aparecer um grupo de alunos reprovados, a culpa e deles (o que sendo "cabuloes" nem sequer e de se admirar). E disse tambem que se numa pauta aparecer a turma inteira reprovada (como se verifica hoje) a culpa e do professor. Se todas as turmas vivenciaram identico cenario, a culpa e da direccao da Escola. E parou por ai...

Mas eu continuo. Se todas as escolas da provincia tiverem maus resultados (como e o caso), a culpa e do director provincial. E se todas provincias tiverem o mesmo problema, a culpa e de quem NOMEIA estes directores provinciais, isto do PROPRIO MINISTRO!

E finalizo, e a culpa de ainda se ter um ministro destes, e de quem o mantem no cargo...Portanto, que faca a sua parte, demitindo este PHD que nos quer enfiar a todos no mesmo alcapao!...

ricardo disse...

Por quem os sinos dobram no nosso Ensino...

http://www.youtube.com/watch?v=KJz9S5vfvns

http://www.youtube.com/watch?v=6cOaC8gSbhs&feature=related

Quando a quantidade se sobrepõe a qualidade e estas situações tornam-se no lugar comum das reuniões com os nossos doadores. E eles, estão lá preocupados com isso? Claro que não. Há muito desempregado qualificado por lá disposto a mudar de ares por estes dias...

É triste ser-se permanentemente cego!

ricardo disse...

E para terminar, este depoimento curioso...

http://www.youtube.com/watch?v=hWoCPnkDJ24&feature=related

Método Correctivo!...