30 dezembro 2010

Notas sobre WikiLeaks (17)

O fim desta série (mapa em epígrafe do Spiegelonline aqui, pode também ver um outro mapa elaborado pelo Guardian aqui), através da qual podemos verificar quantos inesperados inquilinos habitam a democracia de rosto fulgurante.
5. Conclusões. No “Vagabundo dos Limbos”, série de ficção científica de Christina Godard e Julio Ribera, o herói Axle Munshine cometeu o maior crime do Império Galáctico ao atravessar as portas proibidas do sonho para encontrar Quimera, uma mulher por quem se apaixonou num sonho. No nosso mundo mais prosaico, o australiano Julian Assange, antigo hacker, atravessou ousadamente as portas proibidas do império secreto americano para revelar segredos de espionagem mundial. O sagrado secretista global dos vários senhores do mundo apareceu desnudo num portal - o WikiLeaks -, as vozes locais levantaram-se e levantam-se, protestando, condenando ou ironizando. Um autêntico Cablegate. Em meio à comoção e à controvérsia em todo o mundo (incluindo a discussão sobre o futuro do jornalismo num momento em que já surgiram dois clones do portal e um terceiro se anuncia), a leitura daltónica moralizante imperou e impera generalizadamente, jogando no estreito espectro dicotómico dos conspiradores e das vítimas, das verdades e das mentiras, dos bons e dos maus, enfim dos demónios e dos santos. O WikiLeaks pode ser analisado em dois registos: o da informação diplomática americana e o do movimento social que desafia os múltiplos senhores do planeta (independentemente da sua nacionalidade). O primeiro registo tem sido o mais discutido. Neste trabalho foi o segundo que mais me interessou, mas isso não significa que eu esteja de acordo com ele. Ou com o primeiro. Uma hipervalorização do conteúdo informacional coloca na penumbra o facto de WikiLeaks pré-anunciar a transição para um novo tipo de mundo, bem mais do que pré-anunciar um novo tipo de jornalismo ou de tratamento de informação. Esse novo tipo de mundo, vestido de cibermundo, está e estará cheio de propósitos e de tecnologias panópticas. Mas está e estará, também, povoado por resistentes, especialmente por ciberquestionadores e ciber-resistentes.
(fim)
Adenda: uma versão melhorada desta série poderá vir a ser publicada num jornal local.

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro prof. Carlos ! Uma excelente série,bem analisada e equilibrada. Meus cumprimentos por isso e também meus melhores votos de um feliz 2011, junto aos seus! Muita paz e saúde !

Paulo; Brasil

Carlos Serra disse...

Obrigado, retribuo