09 junho 2012

Poder de persuasão dos SMS (5)

Quinto número da série, baseada neste tema aqui. Mantenho-me no segundo ponto do sumário proposto aqui:
2. Análise de conteúdo: pedi no número anterior que reparassem no facto de os destinatários do sms seram considerados mero receptáculo da mensagem, objecto passivo cuja função era unicamente a de registar e proceder conforme, em consonância com um suposto e implícito núcleo primordial de grevistas digamos que por geração espontânea (tom profético, inexorável: "vai haver grande greve..."). Em segundo lugar, tenha-se em conta a enumeração caótica dos supostos males sociais, figurando à cabeça as barracas removidas (talvez aqui resida a chave da mensagem). No primeiro caso ordena-se, no segundo impõem-se as razões da greve. Mas não só. Não há um público alvo, específico, não há profissões, classes de trabalhadores: nada disso é considerado necessário. Não se convoca uma greve, impõe-se algo exterior e atemorizador a um social vazio de social, como se se impusesse a greve à greve, como se, enfim, estivessemos confrontados com um misterioso putsch. A produção prescritiva e desregradora teve o fecho da abóbada com a produção apelativa do caos, como mostrarei no próximo número. Imagem reproduzida daqui.
(continua)

4 comentários:

Marta disse...

Barracas destruídas pelo município? Mas para mim o pior ainda foi ameaçcarem as pessoas, as crianças...

Salvador Langa disse...

Para quê ameaçar quando o objectivo parecia ser "convocar"?

Carlos Serra disse...

Tentarei mostrar mais alguns problemas na continuidade da série.

nachingweya disse...

A gênese da confusâo:
"Greve-s.f. suspenção voluntária, colectiva e temporária do trabalho por um conjunto de pessoas por motivos de ordem laboral; paragem voluntária, colectiva e temporária de uma actividade por reivindicações de vária ordem ou por protesto."
"Revolta- acção ou efeito de revoltar ou revoltar-se; agitar; sublevar; insubordinação..." sic. do Dicionário Universal de Língua Portuguesa.
Quer parecer-me que o que o sms transmitia era o aviso de uma revolta contra medidas governamentais a semelhança da de 1 e 2 de Setembro, também esta anunciada pela mesma via. Não podia ser uma greve uma vez que esta pressupõe adesão voluntária de um grupo de pessoas geralmente motivadas por assunto(s) de ordem laboral específico(s).
Neste contexto, uma revolta avisada é uma delicadeza social dos sublevados.