Observei no número inaugural desta série que uma grande ênfase tem sido dada aos megaprojectos do país. O problema pode ser resumido assim: precisamos taxá-los, taxando-os a nossa vida melhora.
Recordo o que escrevi anteriormente: para que, um pouco como na banal história da humanidade, possamos decisivamente passar da fase da recoleção para a fase da produção, é preciso que duas coisas estejam reunidas: um Estado ao serviço de uma burguesia social investindo na produção e uma burguesia ao serviço de um Estado social investindo no bem-estar dos cidadãos.
Agora, o término desta série: continuamos a dizer entre nós e no estrangeiro que somos um país com um "vasto manancial de recursos naturais", com um povo pacífico e com salários atractivos e que por isso esperamos que os investimentos aumentem. A mão sempre estendida, a mentalidade de expositores de matérias-primas. Quanto mais forte for esta mentalidade (e nada indica que reflua ou diminua), menos verdadeiramente desenvolvidos seremos, menos seremos verdadeiramente nós. Continuaremos a ter uma burguesia externalizada vivendo feliz com os réditos cobrados ao grande Capital, um grupo de ideólogos tecendo odes ao "desenvolvimento" e um Estado refém dos doadores e, a este nível, com crescente dificuldades para assegurar, como é seu dever, um social digno para os cidadãos.
Imagem reproduzida de uma postagem de Novembro de 2010 intitulada "Transnacionais avançam sobre Moçambique", aqui.
Recordo o que escrevi anteriormente: para que, um pouco como na banal história da humanidade, possamos decisivamente passar da fase da recoleção para a fase da produção, é preciso que duas coisas estejam reunidas: um Estado ao serviço de uma burguesia social investindo na produção e uma burguesia ao serviço de um Estado social investindo no bem-estar dos cidadãos.
Agora, o término desta série: continuamos a dizer entre nós e no estrangeiro que somos um país com um "vasto manancial de recursos naturais", com um povo pacífico e com salários atractivos e que por isso esperamos que os investimentos aumentem. A mão sempre estendida, a mentalidade de expositores de matérias-primas. Quanto mais forte for esta mentalidade (e nada indica que reflua ou diminua), menos verdadeiramente desenvolvidos seremos, menos seremos verdadeiramente nós. Continuaremos a ter uma burguesia externalizada vivendo feliz com os réditos cobrados ao grande Capital, um grupo de ideólogos tecendo odes ao "desenvolvimento" e um Estado refém dos doadores e, a este nível, com crescente dificuldades para assegurar, como é seu dever, um social digno para os cidadãos.
Imagem reproduzida de uma postagem de Novembro de 2010 intitulada "Transnacionais avançam sobre Moçambique", aqui.
(fim)
10 comentários:
Pois é, Prof. Ainda esta semana, o Primeiro-Ministro viajou para Alemanha com o objectivo de "expor as nossas matérias-primas". Uma nação definitivamente exibicionista do que a natureza lhe reservou. Nunca expomos o que produzimos ou que podemos produzir, mas levamos para o Ocidente o mar, as águas profundas, as águas cristalinas, as praias, as dunas, os mariscos, os animais aquáticos, as reservas, os ecossistemas, os lagos, a fauna bravia, a mão-de-obra barata, as terras aráveis, os rios com potenciais hidro-eléctricos, as madeiras, o carvão, o gás, as turmalinas, as pedras preciosas e semi-preciosas, o ouro, as areias pesadas, a castanha em bruto, as florestas, o encontrável petróleo, as serras, o povo alegre e feliz na sua condição de pobre. Nunca nos propomos a exportar o conhecimento....Onde está o mérito? Somos um país em exposição, desde os jovens que fazem a vida expondo a quinquilharia da Baixa a Xipamanine, passando pelos deficientes, crianças e velhos que se expoem nos semáforos aos olhos dos bons samaritanos até aos nossos governantes que viajam com a natureza nos power points para sua projecção lá no Ocidente.
Emídio Beúla, jornalista do SAVANA.
Há coisas que me espantam neste social moçambicano, espantam-me não pela sua magnitude, mas se calhar pela sua insignificância. São coisas pequenas tão pequenas que, no final do dia, dou-me conta de que no meu grupo, afinal, só espantaram a minha pessoa.
Esta semana, por exemplo, duas coias me espantaram. O primeiro espanto foi o fenómeno "ultrapassar a meta". Tanto na Zambézia e agora em Nampula, o Presidente da República (em visita de trabalho) foi confrontado, ou melhor, foi presenteado, com relotórios das autoridades locais nos quais, em muitos sectores, tinham "ultrapassado a meta". Cento e tal por cento.... Uma pergunta um pouco deslocada: Por que motivo os dignos dirigentes não mandaram interroper os trabalhos em sectores onde a meta tinha sido alcançada. O esforço bem podia ser empregue em outras áreas onde o desempenho foi de 99%.
Mas que metas são essas, tão facilmente ultrapassáveis? Serão sociais? Será que mexem com a vida das pessoas? Que dinâmicas sociais gera a ultrapassagem de metas no terreno. Reduz a pobreza?
Com este andar, vamos ultrapassar as de desenvolvimento de Milénio....
Outra coisa que me espantou aconteceu em Tete. Dizem as excelsas autoridades que o Zambeze tem muitos crocodilos. Prova: mais de 35 pessoas foram devoradas em 2011 quando iam tirar água.
Solução: reduzir a população de crocodilos. Como? Recolhendo os ovos (não ficou claro o destino a dar aos ovos) e abater alguns répteis problemáticos. Para isso foi adquirido um barco a motor, inaugurado pelo Governador, para efectivar a diminuição dos crocodilos. Coitado dos crocodilos que têm como habitat o Zambeze...
Emidio Beula
Olhar agudo o seu...Sabe, entre várias coisas nas quais penso a partir dos seus dois textos, é na necessidade de termos cartunistas a traduzir permanentemente em seus trabalhos os fenómenos que o Emídio apresenta. Imagine, por exemplo, num cartun, indivíduos armados com espingardas à espera nos canaviais do Zambeze que os crocodilos copulem fluvialmente as crocodilas para atirarem certeiramente aos órgãos dos ofegantes machos e desta maneira reduzirem de forma gloriosa a produção de ovos...Abraço.
As comissões estão desenvolvidas.
Essa dos crocodilos...eheheheheheh!!!!!
Dito e redito. C.Q.D.
O que mesmo me espantou esta semana foi a enorme produção de jatropha que só serve para as fisgas das crianças... que tal um cartoon?
A propósito de cartoons: já viram o suplemento do "Savana"? Será que temos avestruzes suficientes?
A propósito de se exportar o conhecimento: o "Sacana" aborda o nosso ensino çuperior, e questiona se univercidade não será com dois esses...
"...não deixa de ser bizarro que quem optou pela violência para acabar com a opressão colonial, agora apele, frenéticamente, contra o uso da violência para acabar com a opressão da nova burguesia frelimista."
Machado da Graça
A Talhe de Foice - Relatório do MARP
"SAVANA" de 03-Jun-2011
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