12 abril 2011

Os conhecidos que se desconhecem (6)

Escrevi no número inaugural desta série que a vida é uma antífrase bem mais real do que pensamos, é um casamento permanente entre o Mesmo e o Outro bem mais forte do que supomos. Tomando a internet como referencial geral e as redes sociais como vasos capilares de um novo conceito do social em particular, o argumento nesta série consiste em mostrar que somos capazes de nos unir em torno de um ideal no preciso momento em que, conhecendo-nos, nos desconhecemos.
Escrevi no número anterior que era possível aprofundar o impacto das estradas e das praças virtuais explorando analiticamente quatro temas: (1) generalização do confessionalismo (do tipo cristão) público, (2) multiplicação do brejeirismo, (3) irradiação capitalista ilimitada das ADM (Armas de Distração Maciça) e (4)  mobilização, propaganda e clintelismo políticos.
Vou concluir o primeiro tema. Se estivermos algum tempo a estudar o tipo de mensagens colocadas, por exemplo, no Facebook ou no Twitter, apercebemo-nos rapidamente da enorme ansiedade que o geral das pessoas tem de dizer a outrem coisas como "existo", "hoje fui ver um filme", "tenho sono", "vejam este vídeo", "estou aqui", "gosto de chocolate", etc. A bulímica necessidade de acrescentar centenas, milhares de amigos, joga no sentido confessional de busca de um público permanentemente receptivo, regra geral constituído por conhecidos desconhecidos que rodeiam um pequeno círculo de reais amigos dialogantes. O que se confessa não é um pecado secreto e mau para o qual o padre proporá uma punição bonacheirona, mas o pecado publicitado da solidão, o pecado da necessidade identitária, o pecado da procura de empatia, de reconhecimento. Salas de chat, redes sociais, etc., são enormes confessionários digitais.
(crédito da imagem aqui).
(continua)

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