18 abril 2011

Mal-estar na civilização (11)

"Todas as relações fixas e enferrujadas, com o seu cortejo de vetustas representações e intuições, são dissolvidas, todas as recém-formadas envelhecem antes de poderem ossificar-se. Tudo o que era das ordens sociais e estável se volatiliza, tudo o que era sagrado é dessagrado, e os homens são por fim obrigados a encarar com olhos prosaicos a sua posição na vida, as suas ligações recíprocas."
Prosseguindo a série. O ano passado, greves gerais agitaram a Europa, multidões surgiram nas ruas. Agora, multidões manifestaram-se e manifestam-se em África e no Médio Oriente. Eis seis perguntas de fundo: (1) estamos perante um mesmo tipo de crise?, (2) se sim, que tipo de crise?, (3) que tipo de actores protesta?, (4) os protestos são contra o quê e quem?, (5) quais as características dos protestos?, (6) qual o futuro dos protestos?
Prossigo, conforme prometido, no ponto das características dos protestos. Tanto quanto se pode perceber dos relatos da imprensa, as manifestações de protesto possuíram e, aqui e acolá, ainda possuem, as seguintes características gerais: (1) espontaneidade, mas organizadas aqui e acolá pelos sindicatos; (2) recurso a imolações pelo fogo; (3) concentração massiva e solidária em praças públicas; (4) um bocado como se passou nas cidades de Maputo e Matola em 2008 e 2010, grupos em rápida movimentação, crescendo nas vias públicas, avançando e/ou recuando consoante a presença e a resposta policiais, em interacção permanente, boca-a-boca, aqui e acolá com recurso a telemóvel; (5) utilização de pedras, paus e pneus incendiados, queima de viaturas, assaltos a estabelecimentos comerciais e governamentais (a excepção parece ser a Líbia, onde a guerra com recurso a armas de fogo se generalizou).
(continua)
Adenda: o título é o de um livro de Sigmund Freud.

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