10 março 2011

A cada um segundo as suas necessidades, a cada segundo o seu Samora (13)

Se é o homem é a medida de todas as coisas, a política é a medida de todos os heróis.
Vamos lá então avançar um pouco nesta encruzilhada samoriana.
Perguntei-me e perguntei-vos anteriormente quantos prismas é possível adoptar no tocante a Samora Machel, ícone nacional este ano tornado modelo político. E perguntei-me e perguntei-vos por quê.
Prossigo na abordagem do prisma social inconveniente, aquele que salienta o transformador social que habitava Samora.
Escrevi no número anterior que a teorização do esforço para mudar as relações sociais requer ter em conta duas coisas: a produção teórica da mudança e as consequências da prática dessa produção. Ambas as coisas fazem a história do que chamo prisma social inconveniente.
Ora, esse duplo legado é hoje muito incómodo para o actual bloco hegemónico da Frelimo. Na verdade, o bloco está confrontado com um duplo constrangimento: por um lado, zeloso da história da preeminência política e da vitória sobre o colonialismo, tudo faz para manter Samora no panteão neutral dos heróis independentes das vicissitudes do tempo, das relações sociais e das opções políticas actuais; por outro, comandando um poderoso e remunerador sistema de relações capitalistas, não tem óbvia e absolutamente qualquer interesse seja em accionar a transformação das relações sociais vigentes, seja em recordar a prática das tentativas que, nesse sentido, foram feitas (é através deste segundo eixo que se compreende a crítica feita a Marcelino dos Santos, descendente do bloco hegemónico samoriano, pelo secretário-geral da Frelimo, Filipe Paúnde).  Prosseguirei mais tarde este fascinante tema do duplo constrangimento.
Prossigo mais tarde (crédito da foto aqui).
(continua)

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