05 junho 2010

Quisse Mavota e Ndlavela: extractos de relatórios médicos preliminares (3)


"Durante a sessão constatou-se que a 1ª rapariga que “desmaiou” (sic), havia faltado a escola dia anterior por “desmaio” (sic) em casa e está há quase 1 mês em tratamento médico. As alunas fizeram uma exposição sobre os sinais e sintomas que tiveram durante a crise bem como as circunstâncias que as antecederam. Foram descritos especificamente os seguintes sintomas:
Falta de ar
Sensação de sufoco
Aperto no peito
Aceleração dos batimentos cardíacos
Tremores
Calafrios
Tontura
Cãibras
Muito medo
Boca seca
Náuseas
Desta exposição constatou-se que 3 das alunas envolvidas tiveram episódios de desmaios previamente. Estas alunas em particular relatam as seguintes causas para os seus desmaios:
Aluna 1: asma e problemas cardíacos
Aluna 2: problemas emocionais – esta aluna apresenta sinais evidentes de perturbação do humor (depressão) tendo relatado que já pensou em suicidar-se.
Aluna 3: sensibilidade a situações emocionais extremas alegando que tem sempre desmaios em cerimónias fúnebres
Dos 2 alunos que não estavam na sessão de grupo, apuraram-se as seguintes causas:
Aluna 4: tem problemas de saúde que incluem anemia grave e anorexia e esta a ser medicada há algum tempo com sal ferroso e complexo vitamínico “Nova Power”.
Aluno 5: estava acamado e sedado porque teve agitação psicomotora grave e foi medicado com 20 mg de diazepan IM, sem efeito sendo posteriormente medicado com fenobarbital. Foi realizada uma sessão com a mãe que referiu não haver antecedentes que justifiquem a crise. Entretanto, as colegas referem que em outra ocasião o aluno em questão tivera uma crise semelhante embora em menor proporção. Numa entrevista breve com o aluno depois deste ter acalmado, este relatou que tem antecedentes familiares de epilepsia."
Prosseguindo a série.
A 20 de Maio, uma equipa do Departamento de Saúde Mental do Ministério da Saúde, acompanhada pelo director nacional de Saúde Pública, deslocou-se à Escola Secundária de Ndavela, para uma sessão com oito meninas e um rapaz, com sintomas semelhantes aos surgidos na Quisse Mavota (aqui e aqui). Acima está um extracto do relatório preliminar. Entretanto, continue a seguir a minha série com o título Os desmaios femininos na Quisse Mavota, aqui. Clique sobre a imagem com o lado esquerdo do rato para a ampliar.
(continua)

2 comentários:

ricardo disse...

Contra factos destes...

Deverao haver poucos argumentos. Mas eu tenho algumas questoes atravessadas na garganta:

1) Excluindo o evidente aproveitamento politico da situacao feito pela Governadora da cidade de Maputo, nao tera sido explorada por ela a estrategia da auto-sugestao resolver um problema concreto mantendo a crenca?

2) Se o foi, ate que ponto lhe devemos retirar a razao, quando em paises como o Brasil se explora profundamente a corrente da Psicologia Comunitaria?

3) Porque e que a sra. Governadora da Cidade, sendo ela psicologa de formacao, nao articulou com os seus colegas do MISAU para seguirem uma estrategia homogenia intervencao na Quisse Mavota?

4) Porque e que a Associacao dos Psicologos de Mocambique, tendo a cabeca Boia Junior, quer justamente agora convidar a sra. Governadora a associar-se aos seus quadros?

Ao que me parece, Quisse Mavota, abriu espaco para novas sinergias no mosaico social e politico mocambicano. Porque afinal, psicologia com sentido comunitario e uma extensao da tradicional mas com enfase nas técnicas de dinâmica de grupo e conhecimento da realidade para auto-reflexão e acção conjunta. E exactamente isto que, mesmo com intervencoes dissonantes da AMETRAMO, do MINED, do MISAU e do Governo da cidade Maputo, se tentou "a mocambicana" se fazer naquele e outros estabelecimentos escolares afectados pelo mesmo fenomeno.

Espero que o seminario do CEA tenha podido absorve-las todas.

ricardo disse...

Contudo, nunca e demais recordar que...

http://pt.wikipedia.org/wiki/Histeria

E a definicao cientifica mais ajustada do problema.