01 junho 2010

Legitimação do saber simbólico analógico

No sábado aconteceu um espectáculo na Escola Secundária Quisse Mavota: uma cerimónia secreta e uma festa ocorreram para que os espíritos irados pudessem ficar calmos. Recorde aqui e aqui.
Acreditar em espíritos como acreditar em deuses é uma crença normal, completamente racional, que nem sequer é especificamente moçambicana ou africana no caso na crença nos espíritos. Por outro lado, os oficiantes dos cultos não podem ser tomados por meros malandros que galopam na credulidade e no obscurantismo dos crentes. Não estamos, no plano geral, perante superstições ou saberes mais legítimos do que outros, mas perante saberes diferentes.
Contudo, há um dado a ter em conta: o que sábado se passou na escola, com a "mhamba" e a festa libertadora, foi uma legitimação pública do saber simbólico analógico, foi um eclipse - avalizado e custeado pelo Estado - do saber que procura no social as causas dos fenómenos.
Os saberes têm as suas instâncias específicas de actuação - um tema merecedor de ampla reflexão -, tema que abordarei na continuidade da minha série Os desmaios femininos na Quisse Mavota.

1 comentário:

Anónimo disse...

Sim Professor, mas qual é a relacão entre os desmaios das alunas e os espíritos? Claro que acreditar em espíritos com acreditar em deuses é uma crenca normal, mas se é racional... guardo cá as minhas dúvidas.

No decorrer destas encenacões todas fico com medo de ver não só a legitimacão do saber simbólico analógico, como também fico com medo de ver a alienacão de "um Estado" ao saber sibólico e analógico expresso por "bois, cabritos misturados com bebidas alcoolicas".

Noutros tempos era normal explicar tudo como sendo por causa das "nossas insuficiências" e agora VIRAMOS para "os espiritos".

AAS