Como mostrar que sou puro poder?
Não me interessa aqui o poder motorizado particular do gestor do poder político, o uso privado de viaturas. Interessa-me, sim, a espectacularidade do poder motorizado oficial, desse espantoso poder a grande velocidade que abre caminho através do carro policial da sirene, acompanhado pelas luzes de aviso, protegido pelos agentes de segurança, servido pelas ordenanças. Quanto mais importante o cargo do chefe, mais aparatoso é o poder motorizado. Mas a alma do aparato ultrapassa, afinal, as regras da hierarquia. Mesmo se numa capital provincial de pouco tráfego, mesmo se na sede distrital, o chefe e o sistema tudo fazem para se anunciarem, a visibilidade é de regra. Quanto mais aparato, mais poder genuíno exposto. É imperativa a velocidade, há tenebrosos inimigos à espreita? Creio que o fundamental do poder a expor não reside nessa pergunta, mas nesta: como mostrar que estou em primeiro lugar, que sou elite, que sou puro poder, poder absolutamente não miscível, poder fundador, poder infinito?
3 comentários:
Moçambique deve ser o único lugar no mundo em que as sirenes policiais nunca soam para perseguir e apanhar malfeitores mas apenas para abrir alas para o chefe passar.
Mas o que mais preocupa não é esse desvio de aplicação dos recursos policiais que ao abrir a auto estrada para a estrutura motorizada têm de oprimir o cidadão para as laterais; O que mais preocupa é a aceitação- ou mesmo demanda- dos dirigentes por situações que exigem esta mais do que evidente diminuição dos direitos do povo, este apartheid rodoviário.
Seu estiolados dirão: assim se faz em todo o mundo. Esquecem que na parte sã do mundo os impostos do cidadão se aplicam em infra-estruturas prioritárias e não em apitos e vuvuzelas para a polícia abrir caminho.
"Seu estiolados" no lugar de "se questionados"
O espectáculo é diário por exemplo na marginal de Maputo.
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