Quando falamos de alunos ou sobre eles escrevemos, quando falamos de aproveitamento, de reprovações, de qualidade do ensino, etc., ou sobre isso escrevemos, invariavelmente partimos do princípio de que lidamos com entidades e com quantidades neutras. Por outras palavras, o ensino e todo o seu complexo processualismo são por nós colocados em gavetas tecnicamente tratadas, independentemente das relações sociais e das desigualdades nas quais alunos, ensino e resultados estão insertos. E, em seminários, em debates, em bula-bula informal, com os nossos pontos de vista e com as nossas análises, mais raramente com as nossas pesquisas, decidimos que as coisas estão más ou boas, que as coisas más podem ser resolvidas com determinadas soluções. A psicologização permanente e tecnificada de seres e situações, colocando na penumbra as relações sociais que produzem e reproduzem situações sociais assimétricas, são, quanto a mim, uma das razões, se não a principal razão, por que nós - os analistas, os estudiosos - reprovamos em nossas análises, por que não sabemos ler.