26 fevereiro 2014

Xenofobia: construção colectiva do inimigo total (3)

"Residentes de Cullinan, Pretória, África do Sul, levantaram-se terça-feira contra cidadãos estrangeiros, depois de um logista de origem paquistanesa ter supostamente agredido uma criança, que viria mais tarde a falecer no hospital. [A agressão terá ocorrido a semana passada. Segundo fontes, a criança um menino de 10 anos terá roubado bombons na loja de um paquistanês que o agrediu depois com o taco de golfe. O menino viria a morrer esta semana no hospital.[A comunidade, revoltada, começou terça-feira a atacar as lojas de cidadãos de origem paquistanesa. A violência estender-se-ia de imediato contra outros estrangeiros, designadamente cidadãos somalis que têm bancas nas ruas." (realce a vermelho da minha autoria, CS)
Terceiro número da série. Perguntei no número anterior se bastava um suposto roubo de rebuçados e uma agressão punitiva para gerar a "lei do grupo" e a construção colectiva, comunitária, do inimigo total. Não, não bastava e não basta, respondi. Na verdade, para que um modesto fenómeno desse tipo provoque uma convulsão social, para que gere a colectivização comportamental, é necessário que esteja ligado a uma cadeia de frustrações e de privações sistemáticas de vária ordem. Hoje ainda, milhões de Sul-Africanos vivendo nos bairros pobres, aguardam, com angústia, que a nova África do Sul pós-apartheid permita uma vida mais digna. Nesta expectativa, com sonhos frustrados, projectam regularmente sobre os estrangeiros a acusação de que estão a roubar-lhes os empregos locais, de que estão a impedir a realização local de uma vida melhor. A perseguição xenófoba chega a atingir momenos dramáticos, recorde por exemplo aqui. No próximo número escreverei um pouco sobre os "estrangeiros" socialmente construídos como "inimigo total".
(continua)

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