22 agosto 2012

Apartheid não tem raça: massacre de Marikana (5)

Quinto número desta série. Segundo um editorial da revista Amandla, "O nível de violência nas (...) minas demonstra as divisões profundas e a polarização da sociedade Sul-Africana. Os mineiros trabalham em condições de pobreza extrema e muitas vezes vivem na miséria em acampamentos sem serviços básicos. Frequentemente, estes trabalhadores são utilizados por engajadores e não têm condições de trabalho dignas." Aqui. De acordo com um relatório da Fundação Bench Marks, uma organização não-governamental que monitora as práticas das multinacionais de mineração, os trabalhadores geralmente vivem em habitações precárias de bairros informais, sem condições sanitárias, água potável e electricidade. Muitas crianças sofrem de doenças crónicas. Nesses bairros informais reinam o crime, a prostituição e o gangsterismo. Por outro lado, são más as condições de trabalho e segurança nas minas. Confira aqui. Acresce que muitos trabalhadores são perfuradores de rocha, o mais perigoso trabalho mineiro. AquiRecorde aqui. Crédito da imagem aqui.
(continua)
Adenda: "A "greve selvagem" (à semelhança doutras greves mineiras) que despoletou os acontecimentos anteriores ao massacre é uma resposta à violência estrutural do sistema mineiro na África do Sul. Contudo, também é uma resposta a outra coisa, que não podemos ignorar. Os proprietários das minas enriquecidos com a experiência do programa BEE [Empoderamento Económico Negro] vêem a oportunidade para cavar um fosso entre líderes sindicais "razoáveis" e os trabalhadores. Eles seduzem os sindicatos para relacionamentos muito próximos, separando-os da base dos trabalhadores. A raiva presente nas minas é uma raiva profunda contra os gestores que está a ser progressivamente dirigida para a submissão e o fracasso da sua liderança sindical em defender e representar os interesses dos trabalhadores." Aqui.
Adenda 2: uma forma de conferir aos protestos o selo da mão externa consiste em atribuir a estranhos a razão principal da greve - eis uma posição da Lonmin, aqui.
Adenda 3: Por trás do massacre de Marikana - um trabalho de Martin Plaut, aqui.
Adenda 4:Trabalho de Aynda Kotaaqui.

2 comentários:

Anónimo disse...

Para mim tá certo que os trabalhadores reivindiquem melhores condições de vida. É assim que se faz a distribuição da riqueza.

Os polícias também deviam usar balas de borracha, gás lacrimogéneo e canhões de espuma.

Mas a maneira como a massa trabalhadora enfrentou as AKM's da polícia só pode ser mesmo uma poção panoramix misturada com naparama. E não é que o céu lhes caíu mesmo em cima da cabeça. Sinto muito pelas vítimas...

Psikólogo da Makaneta

nachingweya disse...

O BEE, como está a ser implementado, vai desembocar num levantamento generalizado dos marginalizados o que poderá resultar numa guerra civil na África do Sul. Os que detêm poder económico já começam, por esta e aquela questão, a posicionar investimentos fora, na região ou mais longe. Os empoderados também partirão para salvar a pele. Mas quase sem os meios de empoderamento o que os tornará pouco mais que refugiados endinheirados.
A atmosfera para uma guerra civil já está formada, os ignitores são estes episódios das minas, as xenofobias e o medo oficial tangível no evidente pânico policial recente e visível na reacção governamental em tudo submissa ao Capital.
Se não houver mudança substancial, repito, substancial, de paradigma a nação do arco-iris se avermelhará, tinta de sangue.
A compensação dos depauperados do apartheid não pode ser apenas pela atribuição de acções da SASOL a meia dúzia de membros do ANC ou a venda de minas de ouro a netos de alguns combatentes ou imposição de sobrinhas deste e daquele nos boards das multinacionais.Combater a pobreza de um povo não é fabricar meia dezena de ricos consumidores; combater a pobreza não é redistribuir riqueza improdutiva. A base de descriminação positiva deve ser extensiva a todos os marginalizados e entre estes deve haver critérios de mérito para habilitação.
Como no desporto: todos têm o direito constitucional de treinar mas só os mais capazes podem ser seleccionados. Se levamos para os Jogos Olímpicos atletas sem os mínimos, não estamos a promover o desporto e sim o turismo de amigos. Promover o desporto e criar condições de os atletas se auto superarem pelo treino, pelo trabalho. Condigno e justo.

Nota: O descalabro ou uma guerra civil na África do Sul afectará mais os seus vizinhos que os BRICS ou o G20