Directora científica do Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane (1977/1982), Ruth First foi assassinada num gabinete dessa instituição em 1982 - dossier no Mozambique History Net de Colin Darch, aqui.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
12 comentários:
Que a sua alma viva em paz após a grande luta que travou.
Barbaramente assassinada por uma carta-bomba enviada pelo capitao Du Toit da Recce.
Estive meia-hora antes da tragédia no gabinete de Ruth, eu era aluno do primeiro Curso de Desenvolvimento.
Sempre que leio a versão de que Ruth First foi assassinada, ocorre-me as declarações de Aquino de Bragança, proferidas do leito do hospital em Maputo perante um jornalista de credenciais impecáveis, de que a carta-bomba que vitimou First era endereçada a ele.
Gostaria que Ricardo esclarecesse se a carta-bomba do Capitão Du Toit tinha como alvo Aquino de Bragança.
Caro sr. Cabrita, nao tenho elementos para demonstrar que a carta-bomba era efectivamente dirigida a Aquino de Braganca. Mas, tendo em conta o papel de ambos os intelectuais (First e Baraganca) no contexto de entao da Africa Austral, nao me espantaria se Aquino fosse o alvo. Visto que, ele, era muito mais que um simples intelectual e professor Universitario para o regime do Apartheid. Era simplesmente a eminencia parda de Machel. E Machel, a essencia do regime. Logo, a meu ver, neutralizando Aquino, Machel seria politicamente enfraquecido, ou pelo menos reduzido a uma progressiva insignificancia...o que afinal, sempre veio a acontecer em 1985-86.
Sobre a alusao ao capitao Du Toit (reparei que Colin Darch nao se refere a ele), recordei-me das declaracoes do proprio em Luanda depois de ter sido capturado apos a tentativa falhada de ataque as instalacoes do Malongo (Cabinda). Nelas, du Toit descreveu com precisao milimetrica todos os seus actos na Africa Austral, inclusive um outro atentado a bomba, na rua General Pereira D'Eca em Maputo, que destruiu o terraco de um predio. Estavam la operacionais do ANC.
Declaracoes que segundo sei, nunca as refutou ate hoje.
Mas isso, pode colocar-nos num imbroglio historico. Se devemos confiar no que Williamson disse a CVR, ou se deveremos ainda acreditar no que disse Du Toit em 1984.
Este e o busilis da questao.
Algumas coisas sem importância da minha parte: Ruth abria pessoalmente a sua correspondência; não faz sentido que tivesse aberto algo dirigido a Aquino; não eram muitas as vezes em que Aquino e Ruth estavam reunidos; o CEA devia ter previsto que alguns dos seus membros poderiam ser atingidos, particularmente Ruth.
Com efeito, sr. Professor, a vossa observacao faz algum sentido. Sabemos tambem - e isso, e algo que deveria ser investigado pelo sr. Cabrita - que Ruth First estaria no seu escritorio conversando com o Professor Aquino de Braganca, Pallo Jordan (Depto de Informacao e Propaganda do ANC) e outras pessoas, possivelmente ligadas ao ANC e FRELIMO.
Ora, supondo que a BOSS/NIS tivesse tido conhecimento previo desta tertulia no CEA, certamente teria usado um explosivo mais potente. Ou entao, uma carta-bomba, foi a unica falha de seguranca que encontrou para consumar seus intentos.
Um grande misterio.
Anexo tambem um curioso depoimento do antigo general Coetzee na CVR sobre a morte de Ruth First:
http://www.justice.gov.za/trc/media/1998/9809/s980910b.htm
Razao pela qual, desconfio de muitas das "confissoes" la feitas em volta deste caso.
As declarações de Aquino de Bragança, a que me referi anteriormente, foram veiculadas pelo jornal português, EXPRESSO, de 21 de Agosto de 1982, pp 1,2, por meio de uma reportagem do correspondente desse semanário em Maputo, Alves Gomes, com o título “Atentado no Maputo. Aquino de Bragança era o alvo escolhido”.
A reportagem refere que o envelope-bomba, contendo uma publicação do Centro Bibliográfico de Washington, havia sido expedido desta cidade em nome de Aquino de Bragança, através da mala diplomática dos Estados Unidos e metido no correio em Maputo por um funcionário da embaixada norte-americana. Este, um procedimento rotineiro, de acordo com o autor da reportagem. E acrescenta Alves Gomes, citando Aquino de Bragança:
“Segundo nos foi relatado, Aquino de Bragança apercebeu-se de algo de anormal ao tentar rasgar o envelope, tendo-o deixado cair inadvertidamente em cima da secretária junto da qual se encontrava Ruth First, que morreu imediatamente, e ainda a professora americana Brigett (sic) O’Lauglin e Paulo (sic) Jordan, cientista sul-africano residente na Zâmbia, que ficaram feridos”.
Segui, por razões profissionais, através da comunicação social angolana, as declarações do Capitão Du Toit após ter sido capturado em Cabinda. Do que consegui ler (ANGOP) e escutar (Rádio Nacional de Angola e Televisão Popular de Angola), não constava qualquer referência ao caso de Ruth First.
Bem sr. Cabrita, colocadas a coisas assim, parece-me que somente o proprio Du Toit nos poderia esclarecer o que disse quando foi capturado em Cabinda. O que postei aqui foi baseado em fontes nao oficiais (conversas off-record) a respeito dos seus raids em Maputo aquando da troca de prisioneiros com as FAPLA ocorrida tambem em Maputo, factos que na altura foram extensivamente divulgados e amplificados na nossa media oficial.
Tambem e verdade que todas guerras criam suas lendas e mitos. Repare por exemplo, no que se diz aqui sobre a captura de Du Toit em Cabinda por fontes nao oficiais (atencao, trata-se de um forum de racistas): http://forums.skadi.net/showthread.php?t=135266&page=3
Por uma questao de reposicao da verdade historica dos factos narrados aqui sobre Ruth First, digo-lhe tambem que o ex-capitao (depois major) Du Toit trabalhava ate 2009 para o Lanseria Protection Services e teria uma farm em Langebaan. E tudo quanto lhe posso acrescentar sobre esta personagem.
Por outro lado, reparei que a vossa transcricao tenta estabelecer uma "Washington Connection" . Se reparar, Coetzee tambem o insinua em algum momento - uma conexao CIA - durante o seu depoimento a CVR. Mas com eu ja disse anteriormente, eu coloco as minhas barbas de molho em relacao aos muitos depoimentos la feitos. E nao sei se Du Toit alguma vez la foi...
Concordo que muito ainda haveria por dizer a volta deste assassinato incomum de 1982.
Sr. Ricardo, também concordo que muito ainda haveria por dizer à volta deste assassinato. Mas creio ser difícil apurar toda a verdade.
Uma "Washington Connection" ? Faria mais sentido uma “cuban connection”.
Sr. Cabrita referia-me a este de depoimento de Coetzee na CVR em 10/09/1998 "...Coetzee told the TRC's amnesty committee he realised numerous political assassinations took place in the period when he was chief of the security police and police commissioner, but he denied being involved in any of them.
He said he believed at the time that other organisations, such as the American Central Intelligence Agency, could have been involved.
"It was obvious that assassinations were taking place but I considered an enemy of my enemy as a friend of mine," he said of reports of the killing of high profile ANC leaders and activists. He was asked by George Bizos, SC, for the Slovo family, whether he would have approved the assassination of an enemy of the government by a parcel bomb.
"All killings, whether legitimate or illegitimate, are wrong, but I find killing by means of a letter bomb morally repugnant. If anyone had suggested it to me I would have laughed at them," he said..."
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