01 dezembro 2011

Diário de campanha (9)

Prossigo a série, abordando mais alguns pontos, mas lamentando sempre não poder estar no terreno observando e ouvindo.
Vestuário político eleitoral. Tal como prometido no número anterior, permito-me escrever um pouco sobre o vestuário. A morfologia do espectáculo do poder passa também por aí, pelo vestuário, por essa segunda epiderme. Balalaicas tipo sul-americano, fato e gravata, t-shirts com motivos afirmados como africanos: eis, a nível do país, vários exemplos de uma definição de poder em campanhas eleitorais e, no último caso, de procurada autenticidade. Bem mais raro é exibir jeans e uma modesta camisa, essas coisas de somenos. Creio que foi Davis Simango quem inaugurou o vestuário político eleitoral do tipo jovem-de-jeans em 2008/2009, cidade da Beira. A subversão do clássico e austero político vestimentário no nosso país prossegue agora em Quelimane com o candidato Manuel de Araújo. As jeans conjugam-se com a engenharia de sedução política porta-a-porta e com o recurso sistemático aos jovens do desenrasca-dia-a-dia. O grande espectáculo comicial é substituído pela modéstia do boca-a-boca pessoalizado, pelo pacote jovem-a-todo-o-terreno. Não é por acaso que a Frelimo enviou para Quelimane o presidente da OJM, Basílio Muhate. Sem dúvida: os tempos estão jovens e preocupados.
(continua)
Adenda 1: abordo múltiplos aspectos da engenharia eleitoral no seguinte livro: Serra, Carlos (dir), Eleitorado incapturável, Eleições municipais de 1998 em Manica, Chimoio, Beira, Dondo, Nampula e Angoche. Maputo: Livraria Universitária, 1999, 354 pp., confira especialmente pp. 43-243.
Adenda 2: recorde duas séries minhas, uma em 17 números intitulada Poder e representação: teatrocracia em Moçambique, aqui; outra, em 20 números, intitulada Para ganhar as eleições em Quelimane, aqui.
Adenda 3: o candidato da Frelimo em Quelimane, Lourenço Abubacar, tem uma página no facebook, aqui (propaganda promotora aqui); por sua vez, o candidato do MDM, Manuel de Araújo tem um portal na internet para a sua campanha, aqui. O Partido Humanitário de Moçambique não tem portal na internet, o mesmo sucedendo com o seu candidato a edil em Pemba, Emiliano Moçambique.

5 comentários:

Salvador Langa disse...

Certo pessoal vai logo dizer que sempre ganham com as "havaianas". Lá volto eu ao problema --- quem é suficientemente transparente para controlar litígios e queixas?

Anónimo disse...

Seria muito interessante saber quantas escolas e quantos postos de saude seriam construidos com a "mola" gasta para levar os inumeros "ilustres" que estao em Quelimane vindos de todas as partes do pais. Seria tambem interessante saber de onde vem esse dinheiro. Ate a governadora de Maputo deixou o seu gabinete e os muitos afazeres para "reforcar" Quelimane....ioweeeee

TaCuba disse...

Li num jornalinho que o partidão agora faz campanha de noite numa das cidades...

izumoussufo disse...

Bradas acompanham a história da matrículas dos carros tapadas com propaganda?

BMatsombe disse...

Poder central versus poder local.