Prossigo a série, abordando mais alguns pontos, mas lamentando sempre não poder estar no terreno observando e ouvindo.
Promessas. Os relatos das campanhas transmitidos pelos jornais e pelas estações televisivas são um reportório sem fim de promessas feitas pelos candidatos a edis. Do lado da Frelimo promete-se prosseguir o trabalho dos edis anteriores, melhorando-o; do lado do MDM e do Pahumo, promete-se fazer coisas novas. A propaganda política contém material pluridimensional de muita riqueza.
Frequentemente, não lhe prestamos suficiente atenção. A maior parte de nós acha que nada ganha estudando-a ou que tudo nela é transparente e supérfluo.
É fundamental, porém, lutar contra a ilusão de transparência dos factos sociais.
Na verdade, por baixo das palavras, das figuras de estilo, das metáforas, dos programas, etc., esconde-se toda uma panóplia de fenómenos que surgem exacerbados nos momentos de competição política.
Esses fenómenos correspondem a momentos vitais e muito dinâmicos da vida social e, conjugados com outros instrumentos analíticos, permitem ampliar consideravelmente a visibilidade do objecto de pesquisa.
Fazer alguma análise de conteúdo dos discursos e das intervenções dos actores políticos devia constituir uma das vertentes do trabalho jornalísticos. Mais concretamente: (1) programas, estratégia comunicacional e coerência discursiva dos candidatos; (2) metáforas de campanha.
(continua)
Adenda 1: abordo múltiplos aspectos da engenharia eleitoral no seguinte livro: Serra, Carlos (dir), Eleitorado incapturável, Eleições municipais de 1998 em Manica, Chimoio, Beira, Dondo, Nampula e Angoche. Maputo: Livraria Universitária, 1999, 354 pp., confira especialmente pp. 43-243.
Adenda 2: recorde duas séries minhas, uma em 17 números intitulada Poder e representação: teatrocracia em Moçambique, aqui; outra, em 20 números, intitulada Para ganhar as eleições em Quelimane, aqui.
Adenda 3 às 6:06: cobertura em jornais digitais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui; um comunicado do Conselho Superior de Comunicação Social, aqui.
Adenda 4 às 6:20: compare-se a descrição feita pelo jornalista Horácio João da campanha do candidato da Frelimo em Quelimane aqui com a do candidato do MDM aqui.
Adenda 5 às 6:59: no portal da "Rádio Moçambique", aqui.
Adenda 6 às 12:45: "Diário da Zambézia" aqui:
6 comentários:
Esta campanha esta ser interessante. Em Quelimane e Pemba os demissionarios que sairam porque alegadamente estavam doentes se confundem com os candidatos, alias estao mais saudaveis que os actuais candidatos. Um outro fenomeno interessante e o discurso de continuar com o que estava sendo feito que me parece nao fazer sentido. Como disse antes os actuais candidatos do partidao parecem mudos ou algo forcados a candidatar-se porque ao inves deles liderarem a campanha sao os exs e as brigadas centrais que encaram os eleitores.
Uma nova moda e essa de fazer campanha com esposa e filhos. O partidao em Quelimane quer dar a entender que so quem tem esposa ou faz campanha com esposa e que e serio. Isto querera dizer que os seus candidatos em Cuamba e Pemba que nao se fazem acompanhar das respectivas familias nao sao serios? ou querem dizer que todo aquele que nao e casado nao e serio? e os milhares de eleitores jovens nao casados? se nao servem para dirigir provavelmente tambem nao servem para votar ou seja o seu voto nao e serio. So os casados deveriam votar no candidato do partidao porque o solteiro nao e levado a serio. Politiquice barata
A STV, no seu jornal desta manha dedicou 7 minutos a campanha do partidao em Quelimane contra 2 do candidato do MDM. Imparcialidade....
Em Cuamba a chefe da brigada central acompanhada do candidato foi oferecer bens a vitimas de um incendio. Na sua chegada fez questao de apresentar o candidato trazendo-o de traz para frente e em viva voz dizendo "este e o candidato, o candidato e este senhor...." entretanto depois diz aos orgaos de informacao que a oferta nao tinha nada haver com a campanha.
Continuo a pensar sobre quem vai decidir de formas imparcial sobre possíveis contenciosos.
E desta vez não há observadores externos. Nem mesmo internos...
Engraçado como só em dias de campanhas se faz campanha...
O problema caro Professor é quando os resultados são decididos pelas regras da "monarquia eleitoral".
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