17 setembro 2011

Série Tete em fotografia (34) - Chifunde

Prosseguindo esta série fotográfica sobre Tete, da autoria do jurista e ambientalista Carlos Serra Jr, agora com registos do distrito de Chifunde, baseados no dia-a-dia com pessoas e coisas. Neste caso, reparem bem quanto o celeiro está cheio de milho. Se quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do rato.
(continua)

10 comentários:

nachingweya disse...

Trabalho, comida, DIGNIDADE.

Muna disse...

Quando o "gwangwa" (celeiro / silo) anda cheio há esperança naquele povo que, com orgulho, pertenço.

Só que esta esperança morre quando a população não tem mercado para colocar os seus produtos, facto que agrada principalmente os comerciantes malawianos que compram o milho a preços de banana.

Desde a extinção da AGRICOM (que deu lugar, creio, o INGC) os camponeses da minha terra em particular andam à deriva com a sua produção.

A AGRICOM era, apesar de tudo, um bom intermediário e socorria zonas com problemas de estiagem. Por exemplo, ontem a RM - Antena Nacional anunciou que em Inhambane hùa zonas com bolsas de fome. Era este o papel da AGRICOM, colmatar estes problemas.

E agora? Agora é que este milho é partilhado pelos seres humanos e ratos e outros animais e/ou insectos roedores.

Esta realidade é-me transmitida de ano em ano por alguns familiares meus em Chifunde, Macanga, Angónia, Zumbo, etc...

Zicomo

Anónimo disse...

> Pois é... o problema da fome em Africa, e no nosso meio rural, começa aqui!

> Porquê? porque o sistema de comercialização rural não funciona com eficiência, donde: (i) uma parte desta produção vai ser devorada por pragas (insectos e ratos) durante a longa espera para a comercialização; (ii) outra vai ter que ser vendida a preços impostos pela cadeia de parasitas da rede de comercialização.

> Fala-se, fala-se, mas não há políticas realistas para este sector estratégico, que é a comercialização dos excedentes da produção rural.

> ... Olhando para o nosso mapa, dá para nos interrogarmos se tal pode ou não ter a ver com facto de termos optado por colocarmos a cabeça (poder) nos pés!

Anónimo disse...

Caro Zicomo,

> Plenamente de acordo com tudo que dizes: apenas discordo, parcialmente, na apreciação que fazes à Agricom,EE.

> A Agricom, EE foi, de facto, o princípio do fim, pois resultou da extinção de algumas funções do Instituto dos Cereais de Moçambique (ICM) do tempo colonial. Mais tarde, voltaram a criar o ICM, mas “coxo”!

> No período colonial o ICM tinha duas funções distintas:

1ª) Estabelecia um “preço base de sustentação” para cada produto, antes do início das campanhas. Desta forma, o cantineiro, que tinha todo o interesse em comprar os excedentes da produção camponesa, pois era a forma de poder vender mais mercadoria (e era nesta que tinha maiores margens), tinha a segurança de que, se não conseguisse colocar as compras a melhor preço num Armazenista ou Industrial, podia sempre colocar o produto no ICM a um preço que antecipadamnente conhecia;

2ª) A produção comprada pelo ICM era selecionada e uma parte, com melhor poder germinativo e outras características genéticas, era distribuída como SEMENTE na campanha seguinte; a outra parte era considerada GRÃO e colocada na indústria moageira.

> A Agricom, EE foi criada para assegurar a comercialização, sem a preocupação da distinçaõ da SEMENTE do GRÃO.

> E quando se descura a qualidade da semente, ou nos preocupamos demasiado com a introdução de variedades novas, exóticas, não adaptadas, perdemos biodiversidade e podemos potenciar o surgimento de novas pragas e doenças!

> A rede de comercialização rural a funcionar com eficiência é, seguramente, um dos mais impotantes elos da cadeia que leva ao desenvolvimento do Homem.

Um abraço,

Salvador Langa disse...

Além do milho o que há mais?

Muna disse...

Abro excepção para este anónimo cujo comentário subscrevo à integra.

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Então porque faliram a AGRICOM, EE?

Foi uma ideia de Samora Machel. O mesmo acontece com a Vale do meu conterrâneo Sérgio Viera.

Não dá para acreditar que Tete haja gente a morrer a fome!

Pediram a minha família para, no lugar de produzir cana-de-açúcar e milho, passasse a produzir tabaco. Mas ninguém compra o tabaco.

Nem vale a pena falar do papel do governo local, quero evitar polémicas. Tete tem este azar.

Zicomo

Anónimo disse...

Caro Zicomo,
Com a saída dos cantineiros colonos, o Governo tomou conta dos negócios rurais e criou as “Lojas do Povo” > para precaver a acção do “inimigo” chamou a si todo o negócio rural.
Mais tarde, em 1978, o Governo entendeu que tudo o que fosse estratégico deveria ser gerido pelo Estado. Logo, sendo a comercialização agrária estratégica, imperioso se tornava criar uma Empesa Estatal para assegurar tão nobre função: que fosse além do papel de comprador de recurso do ICM.
E assim nasceu a AGRICOM, EE. Como todas as muitas outras EE´s (as famosas Empresas Provinciais, em formação, do algodão, de madeiras, do tabaco, do caju, etc., etc.) a Agricom também nasceu sem qualquer estudo de viabilidade económica que sustentasse a sua rentabilidade: o essencial nessa época, era político, garantir a compra dos excedentes dos camponeses, para que estes tivessem renda que lhes permitisse a aquisição doutros bens: nobre!
Mas, como acontece em qualquer actividade económica, quando não há o tal estudo de viabilidade, realista, que identifique os meios humanos, materiais e financeiros necessários para a viabilidade dos projectos, as coisas falham! E falharam redondamente! As intenções eram as melhor do mundo; só que sonhadoras, irrealistas.
Sobre o Vale do Zambeze, sou de opinião que, para um Homem de Tete interessado no passado da sua região é fundamental ler, entre outros, os documentos seguintes: (i) Relatórios de Actividade do Gabinete do Plano do Zambeze, de 1969 a 1973, do Ministério do Ultramar, mas existentes no país; (ii) Desenvolvimento do Vale do Zambeze – Plano Prospectivo, 1992/93, elaborado pela empresa de consultoia HP, Hidrotécnica Portuguesa, para o Gabinete de Desenvolvimento do Vale do Zambeze. Este trabalho é uma síntese com actualização de todos os estudos realizados na região no período colonial e pós-independência, envolvendo todas as actividades económias. Estudo perfeitamente actual, com projecções realistas para o futuro.
Ainda sobre o Vale do Zambeze, importa dizer que, logo após a independência nacional, o primeiro Director do Gabinete de Dezenvolvimento do Zambéze (não importa nesta altura avançar com nomes) encarregou-se de “escangalhar” a instituição > excessos de um nacionalismo exacerbado. Mais recentemente, o político que dirigiu a Instituição nos últimos anos, com o mesmo tipo de nacionalismo … bem, simplifiquemos, não fez melhor.
Segundo o suplemento do Jornal Notícias de 16/09/2011, a “Empresa Moçambique Leaf Tobaco” sediada em Tete diz ter investido na compra de Tabaco, cerca de 97 milhões de doláres na compra de 68 mil toneladas, a 118 mil agricultores, nas províncias de Tete, Manica, Zambézia e Niassa.
São numeros expressivos, MAS, se os descascarmos concluimos: U$ 97.000.000 : 118.000 camponeses = U$822/camponês/ano : 12 meses = U$68,5 Mês : 30 dias = U$ 2,28 dia. Tratando-se de uma média, temos valores extremos (pequenos agricultores com mais técnica e área e maiores valores; e outros que não chegarão a tirar um U$/dia, ou seja, fazendo juz ao ditado: “a agricultura é a arte de empobrecer alegremente”. Valerá a pena continuar a apostar neste tipo de fomento?
Um abraço,

Anónimo disse...

Caro Salvador Langa,

> O camponês produz essencialmente: (i) cereais: milho, mapira, outros sorgos; (ii) leguminosas: diversos tipo de feijão; (iii) oleaginosas: amendoim, girassol, gergelim, jatrofa; (iv) raízes e tuberculos: mandioca, batata doce, inhames, etc.

> Os problemas de saúde relacionados com o mau armazenamento de produtos agrícolas são imensos. Somos, por exemplo, o país no mundo com maior incidência de câncro do fígado, em particular na zona de Inhambane, devido a Aflotoxinas, um bolor que se forma nos produtos armazenados, altamente tóxico para o fígado: enfim, pequenas coisas, dirão!

nachingweya disse...

Para mim esta imagem significa apenas a soberania alimentar de uma família.
Quanto a mim a falência da AGRICOM e da Mecanagro, deveu-se essencialmente à guerra civil. Não à ausência de estudos de viabilidade. Porque tal como a genese do 8 de Março, a AGRICOM visava tapar um buraco de dimensões conhecidas cuja bitola era a saída de quadros do sistema colonial e o consequente colapso de instituições vitais- no caso o ICM.
Que houve erros, houve. Mas a ideia de uma AGRICOM e de uma MECANAGRO continua, na minha opinião, muito futurista e muito actual.
É claro que se a sua implementação tiver o peso clássico de muitas das nossas instituições (Conselhos de Administração inteiros para um regadiozinho, por exemplo, delegados e directores locais de actividades agricolas com assento permanete em sessões dos governos locais, etc.) o fracasso é garantido.

Muna disse...

Pelo menos estamos de acordo num ponto: AFINAL O COLONO NEM TUDO FEZ DE ERRADO.

Zicomo