18 setembro 2011

Entre o arroz e os minerais

Segundo o "Diário de Moçambique", cerca de mil mulheres proprietárias de machambas de arroz amotinaram-se ontem na cidade da Beira exigindo "o ressarcimento justo pela perda das suas terras ou destruição das suas culturas, em conexão com a implantação do projecto de construção do novo terminal de carvão e minerais no Porto da Beira." Aqui.
Observação: com a desenfreada corrida aos recursos minerais do país, os historiadores terão certamente nos próximos anos muitas histórias fáusticas de Báucias e Filemos moçambicanos para analisar.

9 comentários:

Muna disse...

Da forma como o poder e a ganância atingiram à medula, teremos, futuramente, uma "monarquia democratizada" a reinar no país.

Que futuro se espera dessas mil mulheres e de seus filhos?

Gostava de perguntar a quem de direito se isto é a dita Revolução Verde?

A corrida pelo carvão de Moatize ainda vai fazer história. A ideia de regiões autónomo será levantada. Tudo depende da maneira como vão gerir. Eu estou aqui para ver.

Zicomo

Salvador Langa disse...

Julga Professor que muitos se vão preocupar com isso na corrida à "riqueza absoluta"?

Xiluva/SARA disse...

Quem vai defender as mulheres? Tantos meticais e rua... É "desenvolvimento"...

nachingweya disse...

Vi a peça pela TVM. A questão das mulheres não era a terra nem as culturas. O que elas estavam a reivindicar eram as diferenças nos montantes de compensação designadamente entre mil e quinhentos meticais e cinco mil meticais.
Para mim o problema é a total ignorância das pessoas -neste caso personalizadas pelas mil mulheres -em relação ao valor da terra como meio de produção, mecanismo de soberania e também o aproveitamento dessa circunstância pelas instituições governamentais e pelo Grande Capital Internacional.

nachingweya disse...

Li hoje a 'carta a muitos amigos' do dr Sérgio Vieira no jornal Domingo "sobre investidores nacionais e estrangeiros":
Quero partilhar o seguinte excerto:
- "As joias da coroa, a terra e subsolo que libertámos com sacrifícios enormes, estão a entregar-se ao desbarato ao estrangeiro, ficando o Estado em posição ultra-minoritária quando ainda fica, o moçambicano, esse à força, ressentido algures sem qualquer justa compensação, pois há que acomodar o estrangeiro"

Anónimo disse...

> O eterno problema do desenvolvimento: as compensações às populações menos favorecidas e preparadas para a defesa dos seus direitos, NUNCA são equilibradas!

> Em regra, retiram-se populações que vivem há gerações em determinado local, dando-lhes uma área para construir uma habitação semelhante á que são obrigados a abandonar, e/ou materiais para a nova construção; ou indeminizando pela perda do meio/factor de produção, Terra!

> MAS, o valor de mercado, real, da área donde são “corridos” é muito maior. Neste caso, a base para a construção de um Porto cuja utilização vai gerar, permanentemente, riqueza!

> Um sistema equilibrado, poderia passar por dar a esses “TRANSUMADOS”, organizados em Associações, um “Royalty” permanente.

> O Estado recebe hoje, a título de Royalty, 3% do valor da produção; a Associação dos deslocados do cais receberia, por exemplo, 0,5% durante toda a vida do projecto.

> São levianas, vergonhosas, desequilibradas, as compensações às populações deslocadas nestes empreendimentos, com o AVAL ou mesmo palmas do Governo: insensibilidade!!!

ricardo disse...

O Sr. Coronel, sempre astuto, defende o corporativismo estatal. Ora, bem se viu no que o GPZ - um belo exemplo disso - deu. Quanto ao resto, com tantos mestrados em gestão e economia formados na escola Keynesiana do Primeiro Mundo no topo dos ministérios-chave de Moçambique, é um espanto que alguém ainda se admire com estas histórias da Beira. Quanto aos historiadores, descansem, asseguro-vos que o destino trágico de Samuel Doe se repetirá em Moçambique num destes dias...

nachingweya disse...

Subscrevo a ideia de Anónimo em relação à distribuição efectiva das 'royalties' sobretudo na indústria extractiva dada a sua natureza irremediavelmente finita.
Este seria um belo palco para as chamadas organizações da sociedade civil pleitearem em favor de um desenvolvimento comunitário tangível e mensurável.
Mas onde andarão essas organizações? Provavelmente em seminários de luxo a maquinar resultados para impressionar doadores (a maior parte dos quais também pré-disposta a este status quo).

Anónimo disse...

Seria interessante efectuar-se um levantamento das enormíssimas extensões territoriais a cargo dos CFM...