10 junho 2011

Sobre ritos de iniciação (5) (Texto de A. Katawala)

Legenda: "cirurgião" nas cerimónias masculinas
Continuidade do texto do leitor A. Katawala, que desta maneira decidiu dar o seu contributo a propósito da minha série Sobre ritos de iniciação feminina à maturidade em Moçambique: "São vários os ritos de passagem ou de iniciação que experimentamos ao longo das nossas vidas e eles estão presentes no nosso quotidiano. O importante é não nos deixarmos levar unicamente pelos critérios da nossa sociedade, já que estes critérios não são necessariamente válidos para outros povos e cada ritual é único e significativo para cada cultura/sociedade. Em 2007 visitei Niassa durante os meses de Junho, Julho e Agosto e durante este período convivi com as comunidades das aldeias Assumane, Naicuanha e Lipende. Nestas comunidades, tive o privilégio de partilhar o dia-a-dia com os habitantes, suas intimidades e também os seus "segredos". Falar sobre Unyago a estranhos é como contar o segredo do povo Yao aos "inimigos" e mostrá-lo "é um crime de pena capital"."

5 comentários:

Salvador Langa disse...

Qual a função desse "cirurgião"?

Xiluva/SARA disse...

Também vai falar das meninas?

Anónimo disse...

Salvador Langa,

o cirurgião (Ngaliba) é o sujeito que opera (circuncisa) os rapazes, pois a circuncisão ainda é praticada entre o povo Yao e acontece logo no primeiro dia de retino dos rapazes. Suponho que seja por uma questão de higiene (evitar o produção do "queijo judeu" e é depois de iniciados que já estarão prontos para a vida sexual. (Lembre que se trata de uma sociedade tradicional e não devemos nos deixar levar unicamente pelos critérios da nossa sociedade, já que estes critérios não são necessariamente válidos para outros povos e cada ritual é único e significativo para cada cultura/sociedade).

A. Katawala

ricardo disse...

E as meninas, sao excisadas?

Anónimo disse...

Não, as meninas nao sofrem qualquer tipo de intervenção cirurgica e, por isso, o retiro das meninas não dura mais do que três semanas. Fala-se de uma certa prática do desfloramento das raparigas, mas não vi tal prática nas cerimónias femeninas que testemunhei e nem as "matronas" (Atelesi) do nsondo acreditam que tais práticas tenham sido usadas nos rituais Yao. Senti-me integrado nas comunidades e procurei saber através das pessoas e ninguem sabe explicar sobre o desfloramento e nem é fácil falar da intimidade das mulheres.

Assistí sim foi a dureza de ser mulher na cultura Yao, a dureza das tarefas domésticas, a dureza da própria educação (não apanharam durante o tempo que lá estive, mas podem apanhar umas "bofas" e a educadora tem "autoridade" e permissão das famílias). Também assistí a aprendizagem das danças e dos movimentos sexuais que, neste caso, estão integradas nas próprias danças do ritual.

A. Katawala