15 junho 2011

Sobre crise (19)

"Onde a diferença falta, é a violência que ameaça" (René Girard, A violência e o sagrado)
O décimo nono e último número desta série, escrevendo sobre o sexto ponto do sumário que vos propus, a saber: três exemplos de imputação críseca em Moçambique.
Procurei mostrar quanto o pensamento identitário é rebelde ao diferente, à tensão que a corda e o arco exemplificam. No campo político, o pensamento identitário é hostil ao poliformismo partidário. Confrontado com a diferença política, o pensamento identitário é ávido de desenlaces fatais, ama o que entende serem feridas nos campos contrários ou fica ao mesmo tempo atemorizado e colérico se, no seu próprio campo, alguém proclama a independência do pensamento. Férreo senhor de si, o pensamento identitário nunca se interroga sobre se as crises que vê nos partidos não são, afinal, as suas próprias crises.
Finalmente: faz falta no país uma pesquisa sobre os estereótipos políticos, sobre a produção política de crises partidárias, sobre a ilusão de transparência de afirmações e de fenómenos, sobre o imenso amor ao Único e ao Mesmo, sobre a propaganda, o proselitismo, o profetismo caseiro. Faz falta - para dizer como Pierre Bourdieu - "politizar as coisas cientificando-as" e "pensar a política sem pensar politicamente".
(fim)