"Onde a diferença falta, é a violência que ameaça" (René Girard, A violência e o sagrado)
Avanço um pouco mais nesta série, sugerindo algumas ideias ainda sobre o terceiro ponto do sumário que vos propus, a saber: a concepção da crise como cataclismo.
Acho que muitos de nós não gostam nem da corda nem do arco, pois ambos representam sistemas em tensão perpétua. A tensão aborrece-nos, amamos decididamente a uniformidade, a antífrase é um problema. Se acontece surgir um fenómeno que se afaste do nosso imenso amor pela simetria, pela obediência, logo emitimos a perturbada sentença de que estamos perante uma crise. Mas não só: a crise não é percepcionalmente um fenómeno simples, é um fenómeno ruidoso, final, cataclísmico. Crise representa uma espécie profana de fim do mundo. Por exemplo, se num partido surge uma opinião contrária ou se ocorre um cisma, imediatamente afirmamos que chegou o fim do partido, imagem figurada do fim do mundo. Uma crise aparece-nos como um cancro. É profunda, creio, a nossa idealização do estável, do imutável.
Avanço um pouco mais nesta série, sugerindo algumas ideias ainda sobre o terceiro ponto do sumário que vos propus, a saber: a concepção da crise como cataclismo.
Acho que muitos de nós não gostam nem da corda nem do arco, pois ambos representam sistemas em tensão perpétua. A tensão aborrece-nos, amamos decididamente a uniformidade, a antífrase é um problema. Se acontece surgir um fenómeno que se afaste do nosso imenso amor pela simetria, pela obediência, logo emitimos a perturbada sentença de que estamos perante uma crise. Mas não só: a crise não é percepcionalmente um fenómeno simples, é um fenómeno ruidoso, final, cataclísmico. Crise representa uma espécie profana de fim do mundo. Por exemplo, se num partido surge uma opinião contrária ou se ocorre um cisma, imediatamente afirmamos que chegou o fim do partido, imagem figurada do fim do mundo. Uma crise aparece-nos como um cancro. É profunda, creio, a nossa idealização do estável, do imutável.
(continua)
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