03 abril 2011

Desmobilizados da guerra, mobilizados da história (6)

O sexto número desta série.
Escrevi no número inaugural que faz anos que jornais, blogues e redes sociais se povoam com os desmobilizados de guerra do nosso país.  Regra geral, o tema está cheio de pronunciamentos, de condenações, de ameaças, de promessas de manifestações, de cancelamentos à última da hora, de acordos prometidos, de quase acordos, de acordos supostamente desfeitos, de acordos denunciados, uma real história de amor e ódio, de fidelidade e pecado. Creio que o mais recente relato está aqui.
Escrevi em número anterior que a guerra foi como que democratizada, que a história tem novos actores reconhecidos, que os desmobilizados de guerra de ontem são os mobilizados da história de hoje. Porém - acrescentei - resta um problema: o dos heróis.
Prossigo esta delicada questão dos heróis. Escrevi anteriormente que temos heróis de magnitude diferente. Um herói nacional dispõe, claro, de um peso de irradiação oficial bem maior de que aquele de que dispõe um herói do Xiquelene, dos meandros do crime ou das matas de uma guerrilha. Mas isso não significa que o peso informal, não oficial, dos heróis, seja pequeno: um herói dos quarteirões populares ou das sagas campesinas de luta pode ser mais intensamente sentido e glorificado do que um herói decidido numa reunião do grupo dirigente de um partido e regularmente projectado nos órgãos de comunicação. Os heróis criados por grupos dirigentes, estatais ou políticos, podem não ser adoptados pelos cidadãos, podem não ter significado afectivo e comportamental para os cidadãos.
Prossigo mais tarde.
(continua)

2 comentários:

Salvador Langa disse...

Magnífico escrito sobre os heróis.

Anónimo disse...

Pois Professor, e um dos exemplos disso pode ser a Zaida Lhongo, sem tolerância de ponto, nem transporte grátis teve uma moldura humana de ombrear ou sobrepor a muitos heróis decididos em reuniões de um grupo dirigente. Algumas vezes me pergunto se ao se esforcarem para criar heróis nao estarão a gerar uma tradição para que tenham o mesmo tratamento?