03 março 2011

A teoria dos grandes homens (2)

Escrevi no número inaugural desta série que havia três coisas a considerar na teoria dos grandes homens.
A primeira é que os seus defensores fazem da história um colecção de actos movidos por pessoas consideradas excepcionais, sejam elas boas ou más. Esta é uma crença que creio generalizada. O homem excepcional (muito ramente se fala na mulher excepcional) é aquele que é suposto armazenar em si a capacidade inata de poder dar à história um rumo diferente, um rumo decisivo, bom ou mau. A lógica da teoria dos grandes homens assenta em dados individuais e nunca em sistemas, em dados de pessoas e não de colectivos. Reparem, por exemplo, quanto a história das revoltas em África e Médio Oriente está cheia de relatos sobre Ben Ali, sobre Mubarak, sobre Kadafi, sobre a personalização do Mal, sobre a sua agora altamente publicitada malignidade. Reparem como, entre nós, os partidos políticos, por exemplo, são regra geral colocados na penumbra em favor de pessoas com estas ou aquelas qualidades, apreciadas ou diabolizadas, de dirigentes, de grandes homens ou, se preferirem, de pequenos homens que alguns gostariam de ver grandes. A biografia é, afinal, o alimento predilecto das nossas histórias do dia-a-dia.
(continua)

1 comentário:

Xiluva disse...

É isso mesmo, as mulheres pertencem às cozinhas para muitos homens...