06 março 2011

A senha do social

A rua, com o seu exuberante movimento relacional de pessoas e de coisas, é uma excelente sala de aulas. Há duas maneiras de estar nessa sala de aulas: a mais comum consiste em tomar tudo o que lá existe ou está a existir como um conjunto de coisas naturais sem história; a mais difícil consiste em tomar tudo o que lá existe ou está a existir como um conjunto de coisas sociais com história cuja acesso requer digamos que uma senha. Por exemplo, os conflitos, as clivagens, as desigualdades sociais requerem uma senha de entrada. Por outras palavras: o natural não precisa de senha de entrada, o social exige-a. É com a senha que podemos ter acesso ao funcionamento, à lógica ou às lógicas do que existe ou está a existir nas ruas, é com ela que podemos analisar e teorizar o que parece caótico à superfície.

2 comentários:

Anónimo disse...

http://www.lemonde.fr/idees/article/2011/03/05/eduquer-au-xxie-siecle_1488298_3232.html

Naty Amora disse...

Uma cena na calçada do centro da minha cidade: Uma mulher de mãos dadas com uma criança, provavelmente seu filho, de cerca de dois anos de idade. A criança alonga seu braço direito com um enorme esforço para alcançar a mão da mulher cujos passos são muito maiores que os dela, causando então uma expressão de aflição no rosto da criança. Como consequência, a criança perde o equilíbrio e cai, sendo arrastada, pois a mulher não percebe a princípio. Quando ela percebe, ela puxa violentamente o braço da criança para cima esbravejando palavras de maldição...a criança chora, um choro de desespero.
Isso é um exemplo de cenas que acontecem nas ruas, porém como diz o texto, é apenas a ponta do iceberg, o que será que está embaixo dessa enorme pedra gelada? Qual o tamanho dela? E ao mesmo tempo um milhão de outras “cenas” acontecem, e nós quem somos os observadores (isto quando não estamos sendo os protagonistas das cenas) precisamos começar a pensar antes de julgar.