12 março 2011

Quatro precedentes (6)

Escrevi no número inaugural desta série que as revoltas no norte de África e no Médio Oriente criaram quatro precedentes, que os governos do dia, especialmente os que dependem da ajuda externa, deverão doravante ter em conta. Os quatro precedentes são os seguintes: (1) Respeito pelas necessidades populares, (2) Cuidado no tratamento das manifestações populares, (3) Transparência na gestão do Estado e (4) Especial atenção aos processos de gestão win-win.
Sobre o quarto precedente e finalizando a série - aqui, dois fenómenos são fundamentais: gestão eleitoral e gestão dos vencedores. Na verdade, creio tornar-se cada vez mais imperioso assegurar a transparência dos processos eleitorais. Este é um ponto sensível e de difícil solução. Por hipótese, quanto mais os órgãos burocráticos do Estado forem reféns de comandos políticos partidários, com eles vivendo em promiscuidade, mais difícil será aceitar os resultados eleitorais (designadamente pelos actores políticos derrotados) e, portanto, mais difícil será aceitar a fórmula soma zero. Mas, por outro lado e em tripla hipótese conjugada, (1) quanto mais recentes forem as gestões eleitorais, (2) quanto mais prisioneiros forem os Estados de reinados prolongados de certas forças políticas e (3) quanto mais prementes forem as aspirações de ascensão social de elites marginalizadas na distribuição de recursos de prestígio e poder, mais difícil é aceitar a fórmula acima referida - por isso, procurando suavizar as linhas de conflito, como está a suceder no nosso continente, órgãos deliberativos fazem apelo à fórmula ganha-ganha ou das duas cabeças à Jano (Costa do Marfim sendo o exemplo mais recente). Estamos, assim, confrontados com um duplo constrangimento sério.
(fim)

1 comentário:

Salvador Langa disse...

Excelente análise Professor.