O sismo popular de 1/3 de Fevereiro revelou mais um fenómeno ao qual tem sido prestada pouca atenção: a falência do discurso autista centrado no slogan (combate à pobreza nuns casos, combate à pobreza absoluta na maior parte dos casos) e na mimese ad nauseam de palavras populistas, fora de contextos e de oportunidades adequadas. Parece que ninguém dos portadores da palavra oficial está disposto a saber o que o povo, em sua diversidade, em sua riqueza, entende por pobreza, relativa ou absoluta, o que ele entende por combate à pobreza, o como ele acha que se pode combater a pobreza.Tenho para mim que um novo discurso terá de nascer e, especialmente, que um novo tipo de líderes estatais terá de ser produzido. Se a história se repete uma vez como tragédia, seria inoportuno que, agora, se repetisse como comédia.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
4 comentários:
O maior problema nao e o discurso em si. O problema e saber quem discursa e quem poe em pratica o discurso e as iniciativas. Querem todos discursar e ninguem quer por a mao na massa. Desde o PR ate o lider comunitario e em tabela o campones, e so discurso. Uma coisa e certa, precisamos de trabalhar mais e falar menos, reclamar menos, pedir menos, produzir mais. Parece que temos um pais com muitos oficiais e poucos soldados, todos querem mandar e ninguem quer trabalhar.
Aqueles de quem se espera "materializar" os discursos e iniciativas nao so nao o fazem como muitas vezes nao deixam fazer. Quem ja tentou abrir uma empresa ou implementar um projecto sabe do que estou a falar. Sao caixas de ressonancia especializadas a dificultar o desenvolvimento ao contrario do que deles se espera: ja em muitas ocasioes o PR disse que e preciso mudar a atitude, a mentalidade...
Por outro lado me parece que o ha cada vez um maior numero de gente formada que se auto-intitula experts disto e daquilo. Podem ser experts de tomate hoje e amanha de experts de ciclones amanha, etc. Estes tambem nao poem mau na massa. Alguns deles estao a profissionalizar-se em workshops. Outros andam de consultoria em consultoria muitas vezes ou quase sempre consultorias que nao produzem nada. Desajustadas e mal elaboradas essas consultorias so servem para sacar alguma mola e engaveta-las. A estes eu chamo nao de experts mas de espertos/papistas.
VAMOS trabalhar......mais comida e menos papo....
Excelente artigo.
Destaco, se permitido me for:
- na mimese ad nauseam de palavras populistas;
- um novo tipo de líderes estatais terá de ser produzido;
- seria inoportuno que, agora (a história), se repetisse como comédia.
Meus comentários:
A frelimo já era, e eles sabem. Daí que os novos líderes tenham que ser procurados, têm que sair doutros contextos - mais do mesmo???, "(desr)evolução na continuidade, também já não dá.
Já era - só vai demorar mais um pouco, ainda.
A história em Moçambique, nos últimos tempos, não é só "comédia", infelizmente - a comédia dá para rir.
É uma tragicomédia - uma tragédia que "ninguém" leva a sério.
"Aí é que está o problema", como diz aquele muana Sena.
Dá vontade de chorar.
Mesmo.
Passou despercebido neste blog, possivelmente por estarmos concentrados nos nossos proprios problemas, identicas medidas tomadas em Luanda para o sector dos combustiveis...
Digo isto, porque quase ninguem se apercebeu:
http://www.canalmoz.com/default.jsp?file=ver_artigo&nivel=1&id=8&idRec=8680
Alias, quem viu a TPA nesta ultima semana, bem pode observar o super-destaque dado ao porta-voz do MPLA - o Falcao - para expor de sua justica aquilo que qualificou "Apelos a desobediencia civil feitos pela UNITA...". E a inexistencia de contraditorio na noticia. Isto e, a TPA nao se deu ao luxo de:
a) Pedir ao MPLA provas da sua alegacao;
b) Perguntar a UNITA se corroborava com a acusacao;
c) Ir a Radio Despertar, ouvir o (s) jornalista (s) que "incitavam a populacao".
O que e certo, No dia seguinte, ASSASSINARAM o jornalista que supostamente "falava de desobediencia civil"...
E mesmo apos o seu assassinato, a TPA decidiu ignorar este acontecimento na totalidade. Preferindo, ao inves, repetir o comunicado do MPLA em todos os telejornais!
Estes sao os factos democraticos inquestionaveis de Angola. Mas alguem se preocupa com isso?!...
Ricardo reconheco que li a notícia com menos atencão o que não é bom.
Mas também há uma coisa estranha entre nós. O CanalMoz publicou que Hermínio dos Santos foi atingido com balas de borracha num dos dias das manifestacões:
Polícia atingiu líder dos desmobilizados de guerra
.
O mais estranho é que calou-se, calámo-nos. Será que não é preocupante, sobretudo nas circunstâncias em que isto aconteceu e pelo braco de ferro entre ele e os homens do Pacheco? Será por medo?
Enviar um comentário