05 setembro 2010

Quatro pontos sobre as manifestações (5)

Mais um pouco da série.
Recordo os quatro pontos aqui em análise a propósito das manifestações populares: 1. Poder mobilizador dos celulares e dos sms; 2. Dessocialização e criminalização dos manifestantes; 3. Outorga das manifestações a desígnios obscuros e externos; 4. Concepção do anormal e da crise como coisas imediatas e não em processo.
Como escrevi no número anterior, dessocializar e criminalizar certo tipo de habitantes urbanos é uma característica de alguns sectores do país produtores da palavra oficial ou oficiosa. Para o fazer, evacua-se o lugar e o papel desses habitantes das relações sociais, tornando fácil encontrar uma natureza maléfica congénita e por essa via produzir etiquetas identificadoras cómodas do género: marginais, indivíduos de conduta duvidosa, desempregados, etc. Então, a boa consciência decidiu que não é a sociedade, que não é um determinado modo de produção que é responsável pelo estado desses supostos detritos sociais, mas eles-próprios. Mas não só: admite-se que estes detritos sociais assim utilmente criados guardam uma segunda natureza: a de crianças, a de seres incapazes de vontade própria e amadurecida. Quando se movem no sentido da violência é porque foram accionados por mentes obscuras, por mãos externas interessadas no caos social.
(continua)

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