Avanço na série.
Escrevi no número inaugural que iria abordar os seguintes quatro pontos a propósito das manifestações de ontem (recorde aqui e aqui): 1. Poder mobilizador dos celulares e dos sms; 2. Dessocialização e criminalização dos manifestantes; 3. Outorga das manifestações a desígnios obscuros e externos; 4. Concepção do anormal e da crise como coisas imediatas e não em processo.
Assumamos, então, que o celular jogou e joga um papel vector na comunicação dos manifestantes, ao lado do boca-a-boca, assumamos que ele é endógeno e não o produto de uma mão externa (conferir, igualmente, a minha nova série com o título Manifestações: estímulo sul-africano e produção de rumores).
Vamos ao segundo ponto.
Tal como nas manifestações de Fevereiro de 2008, certos sectores produtores de opinião oficial e pró-oficial têm-se esforçado por extrair os manifestantes do meio social, dotando-os de uma natureza delinquente primária, independente das relações de produção. A ideia dissocializadora parece ser a de os desmoçambicanizar para refabricar os Moçambicanos como portadores genuínos de uma infinita capacidade de resignação e pacifismo. Mas não só.
(continua)
1 comentário:
Sobre o poder mobilizador do celular e dos sms. Sem dúvidas que estamos vivendo essa experiência não só em Moçambique, é uma tendência no mundo inteiro porque as redes digitais móveis oferecem essa possibilidade. Aliás, o estado de arte da tecnologia e da convergência das mídias indica o quanto o ser humano sente a necessidade de participar na definição dos destinos comuns e o celular é um dos meios de comunicação não midiática do qual a população moçambicana se apropriou rapidamente pelas facilidades de seu uso e pelas inúmeras vantagens e outros atributos que oferece...
Compartilho as mesmas hipóteses do Prof. Serra de que para a mobilização da população para as ruas, tanto nas manifestações de 5 de fevereiro de 2008 quanto nessas de agora, os líderes "organizadores" serviram-se do celular. A propósito disso estou orientando uma monografia a um aluno da ECA sobre a cobertura da televisão nas manifestações de 5 de fevereiro. Percebo que teríamos que ampliar esse tipo de debate na Universidade sob o olhar de várias áreas de conhecimento para compreendermos cada vez mais a nossa sociedade e a força das mídias na actualidade e as consequências que a utilização das mesmas traz para cada um e para todos...
Leonilda
Enviar um comentário