Multiplicam-se os discursos sobre a pobreza.
Mas como é oficialmente criada a visão dessa pobreza sem rosto? É criada extraindo-a, evacuando-a por inteiro das relações sociais e dos mecanismos que produzem e reproduzem sistematicamente as condições de desigualdade de oportunidades e incentivos.
A pobreza torna-se, então, um produto meramente individual, atípico, completa subjectividade, uma consequência da preguiça mental, resultado de geração espontânea, perversidade condenável. Os pobres são havidos como uma colecção desprezível de indivíduos preguiçosos. Se não houver preguiça mental, se houver espírito de luta em geral, é evidente que a riqueza está à mão de semear, é só colhê-la. O trabalho incessante é a machamba dos frutos do futuro – apregoa-se de forma ardente e milenarista.
Temos uma sociedade na qual se cruzam várias explicações sobre a pobreza: para uns é obra do diabo, para outros é obra de espíritos malévolos e para outros é obra da preguiça mental individual. Vários rios com diferentes águas causais, mas todos eles desaguando, afinal, numa mesma foz ideológica, na foz ideológica do ocultamento politicamente útil das causas sociais objectivas que produzem e reproduzem, cada dia, a pobreza de milhões de pessoas. Um real triângulo ideológico das Bermudas, no qual, de forma sistemática, se afundam as reais razões do social abissal e programadamente desigual.
Mas como é oficialmente criada a visão dessa pobreza sem rosto? É criada extraindo-a, evacuando-a por inteiro das relações sociais e dos mecanismos que produzem e reproduzem sistematicamente as condições de desigualdade de oportunidades e incentivos.
A pobreza torna-se, então, um produto meramente individual, atípico, completa subjectividade, uma consequência da preguiça mental, resultado de geração espontânea, perversidade condenável. Os pobres são havidos como uma colecção desprezível de indivíduos preguiçosos. Se não houver preguiça mental, se houver espírito de luta em geral, é evidente que a riqueza está à mão de semear, é só colhê-la. O trabalho incessante é a machamba dos frutos do futuro – apregoa-se de forma ardente e milenarista.
Temos uma sociedade na qual se cruzam várias explicações sobre a pobreza: para uns é obra do diabo, para outros é obra de espíritos malévolos e para outros é obra da preguiça mental individual. Vários rios com diferentes águas causais, mas todos eles desaguando, afinal, numa mesma foz ideológica, na foz ideológica do ocultamento politicamente útil das causas sociais objectivas que produzem e reproduzem, cada dia, a pobreza de milhões de pessoas. Um real triângulo ideológico das Bermudas, no qual, de forma sistemática, se afundam as reais razões do social abissal e programadamente desigual.
2 comentários:
"... e programadamente desigual."
Perfeitamente de acordo.
A questao esta em simples programar exactamente o contrario,
Para se tornar programadamente menos desigual, basta nao deixar as causas sociais objectivas da pobresa desaguarem na foz ideologica do ocultamento politicamente util,
Ai a questao sera, como fazer isso ? pior ainda, como fazer isso sem eliminar a ideologia do ocultamento ? que a cada dia 'e transmitida "oficialmente" por instituicoes que ao invez de promoverem transparencia, promovem obscurantismo e ocultamento politicamente util.
Por outro lado, nao deixa de ser curioso o facto dessa mesma ideologia do obscurantismo e ocultamento do politicamente util , apartir de "doacoes, ajudas e emprestimos ao estado ", ser constantemente reforcada, por parceiros que se dizem combatentes da pobreza e defensores da transparencia.
Tornando dessa forma os pobres, completamente endividados sem nunca sequer chegarem a conhecer as razoes do seu endividamento, e muito menos a usufruir das "doacoes, ajudas e emprestimos recebidos pelo seu estado", tornando-os ainda mais pobres do que ja eram antes.
E tudo isso por uma questao fundamental: Ter Instrucao, nao significa necessariamente ter Educacao...
Enquanto nao conseguirmos perceber a diferenca, mais triangulos sugirao no nosso horizonte.
Enviar um comentário