Tenho, por hipótese, que as mechas são bem mais do que o sinete de um corpo modificado ao nível do couro cabeludo, do que uma janela para a alegria de um novo visual, do que o exercício de uma estética vibrante, do que um utensílio para a sedução. São, também, um termómetro do social e uma válvula de escape feminina. Termómetro do social porque, nas longas horas que dura o arranjo do cabelo, as mulheres (são regra geral várias, reunidas por causa do ritual) passam em revista a vida da família, da comunidade, do bairro, as suas alegrias e as suas tristezas; válvula de escape, porque a mechação é um canal de afirmação, de marcação identitária, frequentemente de protesto contra a dominação masculina. Em cada mecha anda uma história, em cada história habita uma alma, história e alma das nossas raparigas.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
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