08 setembro 2016

Dos mortos sem paz e ponto de agenda [5]

Quarto número aqui.  Entre 1975/76 e 1992 ocorreu a mais mortífera, a mais terrível das guerras no nosso país. Eis alguns dados que colhi num pequeno trabalho de pesquisa efectuado em 2006:
  • Um milhão de mortos.
  • 454.000 crianças de idade inferior aos 15 anos mortas entre 1981 e 1988 (45% das vítimas).
  • 23% de crianças entre os feridos registados nas unidades sanitárias.
  • 7.000 crianças deficientes devido às minas entre 1980 e 1993.
  • 50.000 pessoas amputadas, das quais 7.000 crianças e mulheres.
  • Dos 92.881 soldados e guerrilheiros desmobilizados (76,3 do exército governamental e 23,7% da Renamo) após o Acordo de Paz de 1992, cerca de 28% tinham menos de 18 anos: 4.678 menos de 13 anos, 6.828 estavam entre 14 e 15 anos e 13.982 entre 16 e 17 anos, totalizando 25.498.
  • Acima de 250.000 crianças órfãs e não acompanhadas. As crianças foram submetidas a repetidas experiências traumáticas: ameaças de morte, terror, agressões, processos sistemáticos de desumanização, fome, sede, mal-nutrição, exploração pelo trabalho, abuso sexual, envolvimento em actos militares. No que toca à sua personalidade, foram verificados os seguintes distúrbios: falta de confiança nos adultos e em si próprias, falta de perspectiva de futuro e/ou perspectiva pessimista, isolamento, depressões, resignação, altos índices de agressividade, perda de sensibilidade, regressão, introversão, fobias diversas, falta de mecanismos adequados para resolução de conflitos, capacidade muito limitada para aceitar frustrações, sintomas neuróticos diversos.
  • Cerca de 1/3 de crianças morrendo antes dos 5 anos.
  • 1.000 por cada 10.000 nado-vivos de taxa de mortalidade materna.
  • Um terço da população mal-nutrida.
  • Dois terços de pobreza absoluta.
  • Mais de 150 aldeias e localidades destruídas.
  • Cerca de 4.5 milhões de deslocados internos.
  • Mais de 1.5 milhões de refugiados no exterior
  • Mais de metade da rede rodoviária destruída ou inviabilizada.
  • Mais de 50% das unidades sanitárias destruídas.
  • Mais de 1.800 escolas destruídas.
  • 1.500 lojas rurais destruídas.
  • Acima de 7 biliões de dólares de prejuízos para a economia nacional.
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FontesFundação para o Desenvolvimento da Comunidade e Organização Mundial de Saúde, Relatório. Maputo: Seminário sobre a criança afectada pela guerra, 15-16 de Setembro de 1997, 1997, anexo 1; AFYA, Boletim da Associação Moçambicana de Saúde Pública, edição especial, Junho de 1996, p.52; Draisma, Frieda and Mucache, Eunice, Psysical and Psychological recovery and social reintegration of child soldiers: the experience of Mozambique, Cape Town: Symposium on the prevention of recruitment of children into armed forces and demobilisation and social reintegration of child soldiers in Africa, Arthur’s Seat Hotel, 23-30 April 1997.

3 comentários:

Sir Baba Sharubu disse...

Este não é o melhor caminho para construir aquele Moçambique democratico, forte e independente que continuamos sonhando.

nachingweya disse...

No entanto todas as guerras civis sao evitáveis, preventivamente solúveis quando a lucidez comanda os destinos das nações.

Worldphototravel disse...

É para isso que se está a caminhar novamente?
Quem no futuro, ainda que volte a haver paz, e ela virá, investirá em Moçambique? Nem o pior dos Masoquista.
Não haverá quem no seu perfeito juízo se questione, antes de enveredar pela senda da guerra, se este Déja Vu não arrasará Moçambique, já não digo no plano económico, mas no plano social, por mais 2 ou 3 gerações?
A quem interessa esta situação? Decerto que não aos Moçambicanos. Por isso, questionem, antes de tomar uma posição se o melhor não será mesmo não tomar posição nenhuma.