Quarto número da série. Sugeri aqui três aspectos a ter em conta na reconstrução social da figura de Dhlakama: 1. Questionamento eleitoral, 2. Rebelião política e 3. Cesarismo messiânico. Vou agora finalizar o primeiro aspecto. Questionador permanente dos resultados eleitorais, rebelde eterno, insistindo desde 1994 que ele e o seu partido têm sido sempre vencedores, Afonso Dhlakama construiu, ele-próprio, uma dupla figura, uma figura à Jano: a de vítima do poder político manipulador da Frelimo [ele nunca fala em Estado, apenas conhece a palavra Frelimo] e a do herói lutador por eleições transparentes e justas. A essa dupla figura, Dhlakama juntou a reescrição da história no sentido de que, afinal, sempre lutou pela democracia quando comandava a Renamo na guerrilha de 1976/1992. A auto-afirmação de "pai da democracia" é o emblema desse processo histórico.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
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