Crescemos sob o influxo permanente da necessidade de obedecer, sob o risco da punição. Tornamo-nos adultos formatados em múltiplos deuses e espíritos internos, protectores poucos, vingativos muitos. Aprendemos a ter dois tipos de polícias: aqueles que, físicos, estão fora de nós e aqueles que, simbólicos, estão dentro de nós. Na maior parte das vezes, estes dispensam aqueles, seus chambocos imateriais são eficientes. Somos o produto de tradições conformadoras que nos habitam sem que, na maior parte das vezes, saibamos da sua existência. A regra que nos atravessa em permanência é esta: obedece. Seus lictores são múltiplos. Desobedecer, ir contra a maré do conformismo, das regras oficiais, aprender a pensar de forma independente, opôr-se aos pasteurizadores do pensamento acomodante, nada disso é fácil. É absolutamente difícil. O homem nasceu livre, escreveu um dia Jean-Jacques Rousseau. Muito certamente estava e está errado. Nascer é nascer para a sujeição. O homem não nasce livre, mas pode tornar-se livre. A liberdade não é um dado natural, mas social. Ter consciência disso é um primeiro indicador de liberdade e, talvez, a primeira porta aberta da democracia.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
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