Brasília (2008)
Pela primeira vez hoje saí da periferia de Brasília e entrei no coração da cidade, no coração que tem muito de Oscar Niemeyer. Ao sair do Núcleo Bandeirante, cidade periférica, saí de algo que é profundamente táctil, humano, feito a cada instante, algo que guarda na sua ordem urbana muito da desordem do fazer humano de cada dia, muito do imprevisto desse fazer múltiplo, algo que nasceu de baixo para cima. E ao entrar no coração de Brasília - quente, seca -, entro na ordem, em tudo o que é planificado, em tudo o que foi previsto com rigor, entro na modernidade do concreto armado, de algo que não nasceu naturalmente de baixo para cima, mas de cima para baixo, algo pensado pelo Estado e executado numa mesa de arquitecto. Sem dúvida que há lá coisas belas, há lá como que catedrais profanas - espécie de apelos geométricos a um céu distante mas complacente -, como que sonhos espantosos de humanos, mas que são coisas sem fissuras de imprevisto, coisas niveladas, coisas que assumem num ápice o selo do fantástico - mesmo se belo, como é -, do ainda não vivido [...]
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